Aviso importante:

A visualização deste blog fica melhor em computador. Todos os textos (e esboços) postados neste blog são de autoria de Solange Perpin
(Solange Pereira Pinto). Portanto, ao utilizar algum deles cite a fonte. Obrigada!

quarta-feira, 6 de dezembro de 2006

Carros máquinas humanas humanos carros

Dezembro, 2006
Por Solange Pereira Pinto


A gigante Disney comprou os estúdios Pixar (antes eram parceiros) e lançou no meio deste ano “Carros” (Cars), um desenho animado com excelente trama (já em DVD). Embora se trate de uma comédia censura livre, a animação nos faz refletir sobre o tipo de vida que levamos.

O protagonista Relâmpago McQueen é um carro de corridas estreante, ambicioso e arrogante que se acha capaz de ser campeão sem uma equipe. Ele tem talento e mostra seu poder. Mas, em um campeonato (a “Copa Pistão”) McQueen empata com seus adversários principais Rei, o ídolo e Chicks, o traiçoeiro.

Uma disputa na Califórnia é marcada para o desempate. No entanto, Relâmpago, que queria ser o primeiro a chegar ao local, acaba se “perdendo” no caminho para Los Angeles. Nisso conhece a Rota 66, praticamente desativada e a cidadezinha Radiator Springs, na qual é levado ao tribunal e tem que cumprir pena alternativa.

A partir da visão peculiar dos grandes centros urbanos, aos quais está acostumado, Relâmpago é desafiado a olhar um ambiente que lhe parece pobre e medíocre. Um lugar pequeno demais para caber sua prepotência e auto-suficiência.

É nesta parte que o filme começa a nos dizer onde estamos, cada um, nessa temporada competitiva que se chama vida. Podemos, por intermédio das alegorias dos carros esportivos e suas poderosas corridas rumo ao sucesso, verificar qual é o pedaço de estrada que nos pertence e quais cones queremos evitar ou derrubar durante os percursos que escolhemos andar, ou melhor dizendo, correr.

“Carros” é um desenho sensível, com diálogos e cenas bem-articuladas, além de uma beleza plástica em se tratando de recursos de animação. É realmente muito bem-feito. Da escolha dos personagens às paisagens percebe-se que houve uma preocupação com forma e conteúdo. Algo fundamental para que uma obra se torne importante.

Embora eu não tenha a mínima idéia em termos de bilheteria e audiência, ou até mesmo conhecimento sobre a crítica, posso dizer que “Carros” deveria se tornar um livro, um clássico moderno das histórias infantis, assim como tivemos os contos de fadas transformados em filmes pela própria Disney. Mostra valores, sem ser moralista demais ou piegas em excesso.

É raro um filme ser melhor que um livro, mas por que não transformar uma boa película em uma história impressa?


Ao terminar de assistir me recolhi entre os pneus e fui avaliar como estão minhas ferrugens, meu volante, o óleo, o combustível, e a lataria que tem me levado por autopistas e por trilhas de terras incertas. Fiz um balanço das minhas rotas para ver se ando atropelando cones e quebrando meus pára-brisas e amortecedores. Olhei minha quilometragem para verificar se ando desistindo da poleposition ou me arriscando ao podium. Parei no velocímetro para sentir como está minha velocidade. Correndo demais? Desgastando o motor? Fazendo reposição de peças? Dei uma parada no box para olhar minha equipe.

De repente, vi que preciso de algumas reformas. McQueen me ensinou, aliás, seus amigos de Radiator Springs me mostraram alguns parafusos que preciso apertar e a limpeza que devo fazer no porta-malas. Quem sabe trocar os faróis para enxergar asfaltos com novas cores e dimensões. Ou até mesmo me reconhecer um carro que já foi possante e que agora prefere passear por campos. Talvez, tenha me aberto as portas para sair velhos passageiros da minha existência e dar lugar a novos motoristas.

Afinal, quem guia é que sabe para onde o carro vai, se ele fica, ou se perde. Mas, que às vezes preciso de um caminhão Mack para me carregar, ah, isso é a pura verdade!

quarta-feira, 18 de outubro de 2006

Oi, há quanto tempo eu não lhe vejo?

por Solange Pereira Pinto /18.10.2006



De repente outro convite. O quinto do ano. Quando foi isso mesmo? A festa de 15 anos de Roberta foi há duas décadas. Troca de olhares com Aldo. Cara brava por causa do vestido amarelo. Porre de leite de onça. Ontem Vanessa fez 40 anos. Daniela lembrou do último début. Salão lotado dançando discoteca. A balada estrangeira esquentava. A timidez ia embora. Velhos tempos. Anos 80 cheio de rock pop. Até suar. Olhava mais uma vez aquele piso colorido de idades. Um xadrez de luzes com dezenas de gente desconhecida. Antes nem era bem assim. Havia um nome certo para cada rosto. Adolescência registrada. Logo, logo, comemorariam a carteira de motorista. Os aniversários iam se modificando. A expectativa do vestibular. Sorria e dizia um oi para quem passava. Maneava a cabeça. Talvez já estivesse desmemoriada. Melhor não arriscar. Apertos mãos e beijinhos na face. Sorriso grudado. Mais um uísque. Era diferente. A vida se formalizando aos poucos. Porém, depressa. Estranho. Trezentos convidados. Banda ao vivo. Vinha o flash. As festas de 30. Independência. Sexo. Casamento. Oi, há quanto tempo eu não lhe vejo? Bordão da madrugada. E não via mesmo. Mais gordos. O sábado se encerraria. Mais míope. Como todos. Ou a maioria. Menos cabelos. Àquela hora pouca gente por ali. Recontou sua história. Sem conta! Quase ao amanhecer. Várias doses “on the rocks”. Uma leve dor nas costas. Dani levaria os pais do anfitrião. Tirou a bota. Faltavam ainda 442 dias. Calculou. Cabelo praticamente grisalho. Acompanhou no último verão duas tias. Três comemorações de bodas de ouro. Teria que levantar cedo. Praticamente após o almoço. A festinha dos Rebeldes esperava. A mais antiga amiga de Lili. Cantaria parabéns. É big. Com quem será. Bolas coloridas na parede. Feito o xadrez no chão. Não conhecia as crianças. Já não identificava ninguém? Talvez três. Faria festa? Comemoraria também os 40? Oi, como sua filha cresceu! A tarde passava. Os brigadeiros sumiam. Ou faria dos 50? Chamaria as colegas da faculdade, do segundo grau, do primário. Será? Caiu fanta uva no colo de dona Margarida. Corre e pega o pano. Quem sabe 60? Pela oitava vez a mesma música. A meninada pulando. Bolo com velinhas? 70? Faltariam muitos amigos. Certamente. Duda apagou as seis num sopro só. 80? Não chegaria até lá. Cada vez mais ouviria “oi, há quanto tempo eu não lhe vejo?” Pegou a lembrancinha da filha. Dez da noite. Exausta. Subitamente os convites mudaram. Pessoas mais envelopadas. Encontros em volta de caixas. Bolo embrulhado em papel laminado. Não foi a nenhum de 90. Tirou a maquiagem. Passou o creme anti-rugas. Lili adormecida. Dani abriu o álbum. Viu Danilo. Não lhe vejo há mais de dez anos, disse à fotografia. Deitou-se sozinha. Começou a lista mental. Dormiu calculando a antiga agenda. Oi, há quanto tempo eu não lhe vejo? Daniela nunca mais respondeu.

quinta-feira, 28 de setembro de 2006

Devoradores




  O dia começa. A grana some. O trabalho aperta. O homem agarra. A mulher chora. A criança corre. O velho cai. A comida acaba. A passeata começa. O grito alastra. O povo sente. A morte chega. A gente pensa. 







Somos blocos de areia. Esculpidos pelo tempo. Dores sulcando. Alegrias alisando. Desespero aguando. O horizonte se corta. A maré derruba. A mão ergue.


Somos grãos de areia. Esvoejando ao momento. Sonhos iludindo. Mentiras acordando. Olhares se trombando. Famintos. Caramujos rastreando tocas. Para engolir. Grades. Comida. Gente.

Título: Quem engole o que?
Autora: Solange Pereira Pinto
Técnica: Fotomontagem
Data: 28 de setembro/2006
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quinta-feira, 7 de setembro de 2006

3x4



sou lenta. sou frágil. sou pequena. sou devagar. sou preguiçosa. sou gorda. sou rabugenta. sou pequena. sou frágil. sou lenta. sou descabelada. sou precipitada. sou alienada. sou marrenta. sou frágil. sou lenta. sou pequena. sou faladeira. sou ingênua. sou chata. sou briguenta. sou lenta. sou pequena. sou frágil. sou irritada. sou burra. sou birrenta. sou infantil. sou lenta. sou frágil. sou pequena. sou doente. sou louca. sou otária. sou poeta. sou pequena. sou frágil. sou lenta. sou brega. sou mau. sou mimada. sou imoral. sou frágil. sou lenta. sou pequena. sou repetitiva. sou carente. sou descrente. sou docente. sou pequena. sou frágil. sou lenha. E o mundo que se exploda! em 3x4 em 3x4 em 3x4 em 3x4.

quarta-feira, 6 de setembro de 2006

Blábláblá novo em cada amanhancer








imagens e texto por Solange Pereira Pinto



Blábláblá. Café da manhã. Escovar os dentes. Sair de casa. Blábláblá. Ser formiga. Ser cigarra. blábláblá. Rebobina. Dormir até tarde. Almoçar. Entrar na net. blábláblá. Ser cigarra. Ser formiga. Opção? Blábláblá. Vamos novamente. Acordar. Fazer isso. Fazer aquilo. Blábláblá. De outro jeito. Não acordar. Querer morrer. Blábláblá. De novo. Nem dormir. Levantar. Blábláblá. Outra forma. Amanhecer. Fazer amor. Sorrir. Blábláblá. Muda tudo. Madrugar. Pegar o ônibus. Trabalhar. Blábláblá. Inverte. Levantar cedo. Entrar no carro. Pendurar o paletó. Blábláblá. Agora do avesso. Barriga vazia. Descer o morro. Blábláblá. Muda a fita. Hospital. Bala perdida. Blábláblá. Troca o canal. Criança na escola. Lancheira. Caderno e lápis. Blábláblá. De outro tom. Menino na rua. Chiclete no sinaleiro. Moedas. Esporros. Blábláblá. Câmera lenta agora. Mulher parindo. Marido bêbado. Greve. Blábláblá. Outra vez. Mulher dando a luz. Marido presente. Hospital particular. Blábláblá. Troca o filme. Soco na cara. Cabeça quebrada. Um par de tênis. Blábláblá. Corta! Repete. Mulher vai às compras. Babá de uniforme. Motorista espera. Blábláblá. Muda a cena. Chefe puto. Salário atrasado. Fila grande. Blábláblá. Troca a lente. Homem alto. Bom terno. Carro do ano. Blábláblá. De outro ângulo. Casal passeia. Quadra tranquila. Arbustos verdes. bláblábla. Reticências. Mais um dia começou. 


terça-feira, 5 de setembro de 2006

Júlia foi à feira com seus balões







Hoje (4/9) – Na Feira do Livro de Brasília teve conto e poesia. História pra criança curiosa (que lá pouco havia).

No Café Literário estava "Júlia e os Balões". Grandes, coloridos e até pequeninos saíam voando dos olhos de André Neves, que contou um pouco sobre como é ilustrar livros infantis.

Ao lado de Marco Coiatelli, o “pai” da menina dos balões, Neves falou sobre essa boa parceria, e, também, sobre o “anonimato” em que vivem os ilustradores. “Toda criança sabe o nome do autor da história, mas quantas sabem quem fez os desenhos?”.

É verdade André, poucos se recordam daqueles emprestam o olhar desenhado que ajuda a fantasia ganhar contornos, colorindo ainda mais as páginas recheadas de imaginação.


Ler um livro ilustrado é com certeza ganhar duas histórias de presente. Que o diga os leitores pequeninos!


Durante o bate-papo André declamou uns versos. E, eu, que já havia comprado o livro, fiquei namorando um trechinho da história de Coiatelli, ou melhor, uma fala de um dos balões de Júlia “somos muito felizes com as surpresas da vida e, enquanto não partimos, brincamos de fazer o outro feliz...”





É. Literatura se parece com esse brinquedo capaz de fazer a gente voar.


Solange Pereira Pinto


domingo, 3 de setembro de 2006

Série - Postal de poesia



Título: Empilhadeiras voláteis
Autora: Solange Pereira Pinto
Técnica: Postais de poesia
Data: Rio de Janeiro, 1997
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Entre Parênteses - É isso. A única coisa que remexer não dá é tranquilidade. Sobra angústia ou saudade. Que pode ser boa. Ontem revirei guardados. Encontrei postais de poesia que eu adorava fazer. Fiz muitos no Rio de Janeiro, numa temporada de férias. Fiquei namorando e relebrando a história de cada um. O bastidor. A viagem. Então resolvi compartilhar com vocês um pouquinho disso. Essa poesia asfaltada que empoeira a goela e nos transforma em empilhadeiras voláteis, equilibristas de outros corpos.

terça-feira, 18 de julho de 2006

Novamente apaixonada

Ainda levarei você para a cama por muitos dias...



Já perdi a conta dos meus amores. De alguns me lembro com mais emoção e sempre os procuro para um reviver. Quando o peito aperta e me sinto muito aturdida e sozinha é deles que me recordo. É neles que busco um colo, o consolo, a palavra amiga. Um outro enlace possível. Eles me fazem crer que não só um E.T. e que tenho e já tive pares.

São encontros quase insólitos. O primeiro, grande e verdadeira emoção, eu tinha uns 13 anos, era estrangeiro, e foi uma amiga da escola quem o apresentou. Depois, tive paixões que nasceram de tardes perambulando em shoppings. Mais tarde, em meio a uma confusa separação, foi me revelado aquele que mudaria totalmente minha forma de agir no mundo, dessa vez um homem sem nacionalidade certa. E, ainda, um mineiro virginiano, que, especialmente, me conquistou pela internet, o Rubem. O último (e atual) encontrei em um café, no início desta semana.

Estava lá procurando gente atual, que ouvisse as minhas angústias e falasse das próprias. Estava praticamente sem esperança quando, de repente, uma voz vinda do longe, de uma prateleira de canto, me chama “é preciso duvidar de tudo”... Olhei para aquele “nanico”, quase encolhido perto dos grandalhões que estavam próximos e pensei é você! Uma roupagem lilás e sóbria, ao mesmo tempo aconchegante.

Na mesma hora, fiquei encantada pensando o que seria aquela senha “é preciso duvidar de tudo...”. Imediatamente não consegui mais tirar meus olhos dele e, feito sede de deserto, comecei a sugar suas palavras. A primeira frase foi “minha vida foi produzir”. E eu queria que ele me dissesse mais.

Comecei, então, atentamente a sorvê-lo, me deliciando a cada nova fala. Quis saber tudo sobre sua vida. Onde nascera, quem eram seus pais, se tinha irmãos, o que motivava sua vida, se tinha filhos, mulheres. Tudo. Senti-me novamente com 13 anos quando conheci Friedrich.

Na medida em que eu mais sabia sobre ele, ainda mais curiosa ficava. Ele era um dinamarquês, nascido em maio (taurino!), filho de um comerciante e de uma doméstica. Caçula de sete irmãos, quando nasceu seu pai tinha 56 anos e sua mãe 45.

Apesar de melancólico como seu pai, dizia não poder ser mais um homem entre tantos outros homens (não era mesmo!). Não aceitava idéias vindas de cima para baixo, sem questionamento. Aos 28 anos, fez sua tese de doutorado sobre Sócrates. Eu começava a admirar seu brilhantismo.

Para ele, o mais importante que a busca de uma, ou algumas verdades gerais, era a busca por “verdades” que fossem significativas para a vida de cada indivíduo, para cada um. O que interessava era o existir, experimentar, vivenciar e não seguir “teorias”. Completava dizendo que os teóricos eram como construtores de grandes castelos, mas que na realidade moravam em celeiros e que a verdade é subjetiva, pois o que é realmente importante é pessoal.

Nossa! Como ele me lembrava Moreno, um amor que conheci aos 32 anos e que repetia a importância do aqui-agora, do ser espontâneo e criativo, e da verdade do sentir de cada um.

Eu ficava cada vez mais inebriada e sua história continuava. Descobri que gostava de usar muitos pseudônimos e que cada um era responsável por defender uma idéia diferente para não haver “confusões” com sua própria pessoa, pois não passaria um dia sequer de sua vida sem escrever pelo menos uma linha. Talvez, uma forma de se proteger e ao mesmo tempo não se calar (será?).

Atentamente eu o ouvia falar das escolhas em ser o que se pode ser ou “uma cópia” daquilo que ditam a sociedade e a pressão cultural. Dizia das inúmeras possibilidades, da liberdade de ir por um ou outro caminho e a angústia que vem daí, pelo fato de se “existir”. As transformações pessoais, as mortes e renascimentos diários, que "a angústia é a possibilidade de liberdade: somente a angústia, através da fé, tem a capacidade de formar, enquanto destrói todas as finitudes".

Meus olhos brilhavam, minha paixão estava consumada. Eu queria aquele homem cada vez mais perto de mim para ouvi-lo, absorvê-lo, enamorar. Assim, foi meu primeiro encontro
Sören Kierkegaard. Levei-o para casa. Deitei-me ao seu lado. Tivemos nossa primeira noite, entre tulipas de cerveja bem gelada.

À meia luz, compartilhamos nossas incertezas, medos, desejos. Lá estava ele, jovem, me ensinando que "Se alguém souber tirar proveito da experiência da angústia, se tiver CORAGEM de ir mais além, então dará à realidade outra explicação: exaltará a realidade e, até quando ela pesar duramente sobre ele, recordar-se-á de que ela é muito mais leve do que era a possibilidade". É preciso duvidar de tudo... Exceto de mim mesma!




Solange Pereira Pinto
Brasília, 18 de julho de 2006.




sábado, 15 de julho de 2006

Um lugar para cada coisa...

Na madrugada, Kierkegaard revelou que para cada idéia, cada trabalho que realizava, tinha uma mesa específica preparada com papéis, pena e tinteiro. E, provavelmente, muitos livros. Ele era rico, e viveu para pensar, escrever e produzir. Morreu pobre, defendendo suas idéias e lutando por um mundo que considerava melhor, mais justo. Seria uma forma de organizar melhor seus pensamentos? Uma maneira de não se perder na fecundidade de sua existência? ou apenas uma mania?

Sinceramente, eu saudavelmente o invejei.

Quisera eu ter espaço!
Para caber a minha loucura.
Acolher minha lucidez.
Quisera eu ter estantes!
Para ninar meus preferidos.
Mirar os desafetos.
Quisera eu ter mesas!
Para libertar os papéis e as tintas dos armários escuros.
Concretizar minhas fantasias.
Quisera eu ter dinheiro!
Para dedicar meu tempo ao pensar.
Mostrar ao mundo minha infinitude.
Ou, melhor, quisera eu não pensar!
para não precisar de espaço, estantes, mesas e dinheiro para criar.

Contudo, não posso lançar a maldição,
ainda me restam um laptop e um blog,
para esta vida não atrofiar ainda mais.

Brasília, 15 de julho de 2006
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sexta-feira, 14 de julho de 2006

Quanto tempo dura?





Por Solange Pereira Pinto em 14/07/2006

Arte: Ana Luísa - 6/07/2006







Parece feita de sopros. Está lá. Sem forma. Vazia. Esperando. Que dela se apropriem. Alguns enchem os pulmões com vontade. Vão tão forte que estoura. Outros não têm coragem. Chegar perto. Medo. Possível pipoco. Há aquele que já ouviu estampidos. Não desiste. Tem quem nem perceba. Ela está a sua frente. Para ser preenchida. Um que chega. Olha. Curiosamente se encanta. Pega. Arfa. Transforma. Agarra. Brinca. É sua. Única. Goza. Como se jamais fosse extinguir. A vida.

terça-feira, 11 de julho de 2006

A vida é bela... um clichê necessário






Embalada pelo Geraldo Azevedo, CD Raízes e Frutos, entrei na caravana do vinho Bolla Cabernet Sauvignon safra 2004. “Corra não pare, não pense demais...”. Um toque no MSN, pela mensagem de “luto” daquela que luta, está feito o convite. “Repare essas velas no cais...”. Um incenso de alfazema para espantar coizim ruim. À taça pela metade, se junta a outra antes vazia, nas brumas anoitecidas de insônia e um rastro de tristeza. Vamos ao papo... “Que a vida cigana... É caravana...”. Do encontro virtual à amizade real. Gargalhadas, existência, divergências, convergências, planos sobre loucura e responsabilidade... “É pedra de gelo ao sol... Degelou teus olhos tão sós”...Logo, logo, precisamos do Santa Helena, pois Baco nos inspirava a degustar mais doces uvas de prazer. “...Num mar de água clara...”. Muda a trilha... "um pedaço de qualquer lugar... nesse dia branco...". Massagem nas costas, mãos carinhosas, corpo macio... o som... a melodia... o mel... “talvez seja real... chegou... por quanto tempo... amanheceu...o impossível não é pecado...” Acordei... leve... flutuante... “abra as janelas do quarto...como a laranja e a sede a gente ainda quer se encontrar...”. Bom Dia!!! Assim, maiúsculo, doce, necessário...

11 de julho 2006.
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Brasil: por quanto você aluga o seu quintal?

Photo ADEME: Gilles MERIODEAU


Brasil, terreno baldio da Europa
11 de julho de 2006

Ouvi outro dia uma notícia sobre a importação de pneus usados e descobri que o Brasil é “lixão”, uma verdadeira lata de lixo do “primeiro mundo”. A conversa é a seguinte: o camarada vai consumindo coisas, descartáveis, de uso determinado, e, de repente, tem que se livrar da coisa. Contratar um container é caro. Então, o que ele faz? Vende a sucata para o vizinho do outro lado do quarteirão dizendo que tudo aquilo é um grande negócio. O vizinho que é pobrezinho de marré marre marré de si, vai lá e compra.
Em 2005, o país comprou cerca de 11 milhões de pneus usados por meio de liminar. O secretário-executivo do Ministério do Meio Ambiente (MMA), Cláudio Langone, explica que cerca de 30% dos pneus usados que chegam ao Brasil não podem ser reutilizados, por estarem em más condições.
O interessante é que a entrada de resíduos sólidos no Brasil não está prevista na legislação. Existem instrumentos que proíbem a importação, mas um grupo de parlamentares articula a regularização.
O assessor tecnológico do deputado Ivo José (PT-MG), Walfrido Assunção, diz que a importação do pneu europeu se justifica porque a carcaça do brasileiro não tem condições de ser reformada. Ele explica que os pneus usados da Europa rodam menos e em estradas melhores.
Nessa hora não entendi nada. De um lado, o MMA lutando contra a importação e, de outro lado, parlamentares a favor. É isso? Decerto, está faltando balanço para a criançada em Minas Gerais.
As notícias dizem que a União Européia, interessada em abrir as fronteiras brasileiras para os seus pneus, solicitou a realização de um painel arbitral e o Brasil, que pretende mantê-los longe, será representado na OMC, em Genebra, por uma delegação composta pela ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, e outros integrantes do governo. Os brasileiros usarão um argumento ambiental para tentar ganhar o direito de continuar proibindo a entrada de pneus de segunda mão.
Pelas estatísticas do MMA, a Europa produz anualmente cerca de 300 milhões de carcaças e despeja 26% em aterros sanitários – o que agora é proibido por uma lei que entrou em vigor no mês passado. "As destinações que eles podem dar dentro da Europa são todas muito caras. A alternativa é enviar esse lixo para países em desenvolvimento e, por isso, querem que o Brasil autorize a entrada", explica Langone, que prevê conclusão do processo até outubro.
Então, minha gente, será que além de quase tudo por aqui terminar em pizza, continuaremos sentados nos pneus? Parece que a colonização continua, o tráfico agora é de pneus usados. Ah, não serve mais? Manda lá para o Brasil... Lá pode tudo! É um pessoal bem-cordato...Um país recauchutado...



Notícias na íntegra:

sábado, 1 de julho de 2006

Brasil: mau pressentimento para as próximas décadas

Brasil, 1.7.2006
Solange Pereira Pinto



Carnaval, futebol e copa do mundo são espetáculos adorados pelo povo brasileiro. Já o show da eleição política é aclamado pela elite dominante. Contudo, são, ambos, momentos de comoção para um lado ou para outro. No final das partidas, a semelhança é que ninguém quer perder.


O Galvão Bueno disse que faltaram trabalho e disposição dos jogadores da seleção do Brasil no jogo contra a França. Eu pergunto? Quando é que não falta ao povo brasileiro disposição? Respondo: apenas nos espetáculos. O que não significa que o entusiasmo seja o mesmo ou de nível equivalente (de interesses) para atores e platéias.


Durante o ano todo, a nação não tem pique para reivindicar nada. Ficam acomodados na sua tarefa de brasileiros descamisados, para de quatro em quatro anos se emperiquitarem de bandeiras, camisas e enfeites verdes e amarelos. Enquanto bianualmente se revezam os políticos entre cargos federais, estaduais e municipais, da mesma forma, com suas bandeiras, adesivos e camisetas, por sua vez acomodados nos salários, nas folgas das votações e na ausência de efetivo trabalho. É festa, ritmo de festa. Quem quer dinheiro!


Por outro lado, dizem que a copa do mundo é vendida. E, o que não é vendido neste mundo capitalista? Isso é uma vergonha, diria Boris. Mas, voltando à capacidade de mobilização dos brasileiros (povo na copa e elite na eleição), quando vamos ver união de esforços para realmente fazer crescer e transformar este país? Vi, numa comunidade do orkut, uma mensagem interessante e dizia (vale a pena transcrever):

“O Brasil é subdesenvolvido não por torcer. Na hora de torcer a tal ‘acomodação’ desaparece, né?! Incrível como vizinhos, que mal se falam em outros períodos, se unem empolgadamente pra enfeitar as ruas com bandeirolas e colorir tudo de verde e amarelo... é bonito ver o empenho pra deixar tudo bonito e cheio de bandeiras do Brasil, né?!! E porque não se unir assim também pra realizar mutirões de limpeza na quadra, ou consertar avarias em escolas do bairro ou ajudar uma instituição de caridade??? Todos, torcendo, esquecem das diferenças e se unem em prol de futebol!! Que lindoooo!! Mas, em prol de derrubar corruptos imundos envolvidos com 'mensalões' nada feito, só sabem ficar com a bunda no sofá resmungando! Parabéns... é bem por aí. O que acha que os poderosos querem? É a política do pão e circo! Um país, onde o centro de todas as atenções em ano de eleições, tanto da mídia, quanto dos debates entre as pessoas na rua, é o futebol e o desempenho da seleção na Copa, não pode ir pra frente mesmo. Torcer pode. Mas, no Brasil há supervalorização do ato de 'torcer'. Não pode se deixar levar por essa anestesia coletiva! A sensação do povo é essa: se o futebol está bem, o país também está, então os problemas foram amenizados. Mas é claroooo, ganhamos a Copa! Estamos felizes e nem um pouco descontentes com os rumos que país toma! Lógico que não esqueci que sou brasileira.. aliás, lembro disso não só de 4 em 4 anos. Se sozinha não posso fazer muito pra mudar o rumo das coisas, que pelo menos minhas palavras sirvam pra abrir os olhos de algumas pessoas... e que elas passem isso adiante e, que, essa corrente possa, talvez, quem sabe, acordar o país e fazer que com esse espírito patriota de união e empolgação ultrapasse a questão da Copa e seja aplicada no nosso cotidiano, de modo que o objetivo maior seja não ganhar uma taça, mas sim por o país nos eixos”.


O pior é que a garota, autora da mensagem, foi muito criticada por pensar e falar o que está aí acima.


Lendo os jornais da semana, antes do jogo de despedida do Brasil, que o ídolo mundial, Pelé, comentou “estou com um mau pressentimento. Primeiro, a França ganhou as últimas duas vezes contra nós; segundo, só uma vez uma seleção sul-americana, o Brasil em 1958, conseguiu ganhar uma Copa na Europa e, terceiro, os favoritos nunca foram os campeões do mundo”. Na ocasião, o lateral-esquerdo Roberto Carlos ironizou as declarações de Pelé e afirmou que o ex-jogador deveria ficar quieto e representar melhor o povo brasileiro. Como assim?!


Veja bem, o Pelé representando o POVO BRASILEIRO. Boiei... Daqui a pouco teremos que encher o Congresso Nacional de mulheres siliconadas carnavalescas representando o povo brasileiro. Realmente, me questiono: quem representa o povo brasileiro? Ou melhor, quem é mesmo o povo brasileiro? O atacante Henry, antes do jogo Brasil e França, insinuou “brasileiros jogam bem porque não estudam”.


Como preciso pensar muito para responder a essas indagações sobre “quem é quem”, prefiro lucubrar que a Seleição 2006 está batendo um bolão de despreparo, ignorância, acomodação, imoralidade, falta de vergonha, e outras coisitas mais, representando muito bem a nação tupiniquim.


Enfim, o Brasil volta para casa, e as pessoas estão mais tristes porque não terão “feriado” na quarta-feira, porque terão que trabalhar, que voltar à vidinha sem festa, sem empolgação, porque terão que guardar a parafernália verde-amarela (pois em eleição não se usa mesmo).


Conclamos a todos, tal como a menina do orkut, vamos reescrever o lema da bandeira brasileira e trocar o “Ordem e Progresso” pela “Ordem no Congresso”, pois o meu pressentimento é que o Brasil não sairá vencedor nas próximas décadas.



quarta-feira, 21 de junho de 2006

Fotografia






















Título: Caminhos
Autora: Solange Pereira
Técnica: Fotografia
Data: 21/junho/2006

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"Quando passei por estas paisagens não imaginava que a partida e o destino seriam sempre diferentes, apesar do mesmo caminho aparente (os caminhos são os mesmos?). Por vezes, claro, por outras, escuro. Assim como minha alma que tonaliza e desbota sem data, sem hora"

Solange Pereira Pinto
Hoje, 25/06/2006

domingo, 18 de junho de 2006

Sou patriota sim, mas...


18 junho, 2006


Enquanto 99% da população brasileira levantam bandeirinhas por causa de bola no gramado, eu prefiro fazer algo mais útil. Ler, ouvir música, dormir, criar. Principalmente, criar e me admirar com a arte.

Poderia até ir à exposição Giorgio Morandi e a Natureza Morta na Itália, mas durante os jogos o CCBB-DF, por exemplo, fecha! Afinal, copa do mundo é o acontecimento mais importante deste país verde e amarelo.

Então, essa foto aí A arte é minha pátria, fragmento da original tirada por minha filha, foi feita no CCBB bem antes da começarem os jogos, no fim de maio, quando nós duas fomos ver os gabirus, as magrinhas...

Na minha opinião, ver a escultura de bronze de Francisco Stockinger curvando-se sob a bola do sol, para quase agarrá-la, isso sim é gol da natureza e do artista.

Diga se não é bem melhor que ver na TV os descamisados (povo brasileiro), os encamisados milionários (jogadores da seleção), os distribuidores de camisas (políticos corruptos e os eleitorais) jogando a bola de um lado para o outro, numa gritaria infernal neste Brasil surdo-mudo-cego?

sábado, 17 de junho de 2006

Poemar





Título: Poemar
Autora: Solange Pereira
Técnica: Aquarela
Data: 17/junho/2006




Poemar

Nas veias o que corre?
Mulher do vento...
submersa
do sal do mar
ao sal da terra
meu peito concha
sozinho
entre algas para te encontrar...

Solange Pereira Pinto

sexta-feira, 16 de junho de 2006

Perder-se também é caminhar

16 junho, 2006

Hoje fiquei pensando nisso "perder-se também é caminhar...", e na minha falta de humor tantas vezes, irritação noutras.

Bar cheio, papos ora baita, ora eita.

Embora me perder não me deixe angustiada, ter que mostrar caminho me aborrece vez por outra.

Tenho quase chegado à conclusão que prefiro ir sozinha, não gosto de esperar e nem se ser esperada. Mas, não importo que me sigam. Assim como não me incomoda, por um tempo, seguir.

Quem sabe uma vida de monge. No templo. Poderia experimentar.

Minha cabeça que ferve por dentro, transborda de idéias, é muito barulhenta.
Gosto de silêncio. Não tenho também o menor saco para ensinar quem não quer aprender. Essa é outra fonte diária de irritação.

Primeiro, porque não tenho nada a ensinar.
Segundo, se alguém tem algo a ouvir de mim, então OUÇA.
Gosto sim de compartilhar o que penso saber, o que experimentei, o que aprendo pela caminhada. Inclusive falar dos descaminhos.

Mas, ficar levantando que insiste em tropeçar, tenho paciência não.
Não tenho quase força para me levantar das minhas próprias quedas, quem dirá dos outros...

Ah, birra! Essa só suporto a minha...rsss
Gente teimosa e birrenta, ecaaaaaa!

Vejo que todo dia me perco muiiiiiiiiiiiiiito no lazer, na net, no photshop, nas linhas do word, nos mil blogs, e nada de me achar para trabalhar... rsss


Epa!


Aliás, eu trabalho um monte!!! sou altamente produtiva, porém não remunerada!
Reformulando, nada de me achar para o que é obrigação!


Oh, sina!

Perder-se também é caminho, agora tenho que trabalhar para continuar a me perder...

quarta-feira, 14 de junho de 2006

Verde e vermelho complementares

Título: Cotidiano - Eu no dia verde
Autora: Solange Pereira
Técnica: Fotografia digital manipulada
Data: junho/2006

quarta-feira, 7 de junho de 2006

Paus e pedras invisíveis

7 junho, 2006



O quebra-quebra no Congresso Nacional, que aconteceu ontem em Brasília, merece reflexão. Se o protesto chegou ao chamado vandalismo, algo há por baixo do tapete. Qual é a sujeira que se esconde?


Independente de concordar ou não com o Movimento de Libertação dos Sem Terra, responsável pelo evento, independente de concordar ou não com vandalismo, ou, ainda, se a causa é justa, tentemos interpretar o discurso que reina neste país.


Afirma-se que os líderes do movimento utilizaram táticas de guerrilha e planejaram com antecedência a invasão à Câmara dos Deputados. Questiono: por acaso a corrupção, o mensalão e a sujeirada toda do colarinho branco não são atos planejados? Não são baseados em estratégia de qual fundo roubar, qual verba desfalcar, qual momento desviar, qual conta depositar?


Se vandalismo é o ato ou efeito de produzir estrago ou destruição de monumentos ou quaisquer bens públicos ou particulares, de atacar coisas belas ou valiosas, com o propósito de arruiná-las, o que dizer do dinheiro público? Não é bem? Então, por analogia, muitos deputados e senadores são vândalos!


Existem os vândalos que mostram a cara e os que não mostram. Questiono, também, se vídeos veiculados na mídia, ou mesmo aqueles apreendidos de “coleções” particulares, servem para incriminar e punir pessoas comuns, por que não servem para parlamentares, juízes e afins?


Dizem também que, na pancadaria concreta de pedras e paus, houve sangue, ferimentos, traumatismo craniano, talvez até morte. Na pancadaria invisível da corrupção há morte de milhões de brasileiros com fome, sem saúde pública, sem educação. Dos paus e pedras invisíveis crianças são mortas diariamente. De ordem de vândalos engravatados há a morte de prefeitos, juízes e outros que “sabem demais”.


Mas dirão que não é luta armada, guerrilha. Sim, não é. As armas são outras. Cada batalha tem seus instrumentos específicos. É claro que a violência explícita chama à atenção, incomoda e amedronta. Mas a violência silenciosa, não seria tão ou mais perniciosa?


Se, hoje, o povo tem medo dos parlamentares corruptos e dos inatuantes, por que esses não temem o povo? Talvez se a pancadaria tivesse alcançado o objetivo de adentrar no “salão de baile”, no parlatório, que vive adiando votações e cujos “representantes do povo” usam os microfones para discursarem para seus pares, num jogo e troca de figurinhas, como se não tivessem mais o que fazer, eles tivessem medo da democracia.


É engraçado ouvir o que diziam os deputados e senadores no plenário enquanto o “pau comia” do lado de fora. A frase “atentado à democracia” foi diversas vezes repetida. Se houvesse realmente esse propalado sistema político cujas ações atendem aos interesses populares, não haveria motivo para entrada forçada na casa do povo.


No fim das contas nos resta saber quem quebra mais, quais prejuízos são maiores neste país continental de latifundiários e sem-terra. Um alerta: tome cuidado com as pedras e os paus invisíveis que podem acertar a sua cabeça a qualquer momento, ainda que você não sinta a dor exatamente na hora em que a pancada acontece. Mas, que o quebra-quebra de ontem foi quase uma catarse nacional, isso foi.

segunda-feira, 22 de maio de 2006

Minha carta de amor ao povo brasileiro






22 maio, 2006


Prezada nação brasileira,


É com muito orgulho que venho me solidarizar com todos vocês, ou melhor, nós. Eu apóio irrestritamente a corrupção que assola nosso país. Sou adepto do mensalão e acredito que um governo só pode sobreviver em condições de manipulação, cretinice, arranjos e golpes variados. Admiro também a pobreza, a fome, e quanto mais pobres existirem melhor para um Estado. Quero, assim como todos os brasileiros, ver os pobres cada vez mais miseráveis e lascados e os ricos cada vez mais afortunados e individualistas. Apoio 100% o capitalismo, os juros altos, o lucro dos bancos, a venda das estatais, o golpe da Bolívia, o aumento do desemprego. Apóio, ainda, os privilégios que os bandidos têm, as superpopulações carcerárias, a corrupção policial, a venda ilegal de armas, a entrada de drogas e armas nos presídios, bem como de celulares e o que mais for necessário para uma ampla comunicação dos presidiários. Apoio 100% o PCC e o aumento geral da violência. Apóio a pirataria, a mão-de-obra escrava, o trabalho infantil e o tráfico de tudo. Desejo ver, também, o aumento vertiginal das contas públicas, o aumento do salário dos parlamentares. Isso é uma delícia! Quero que se amplie o número de partidos políticos. Em relação aos movimentos sociais, sou contra. Apóio a preservação e ampliação dos latifúndios improdutivos, e quem não tem terra que se dane, devia nascer de novo. No sertão, acho que a seca deve continuar e matar um pouco mais de gente. Ah, sou favorável às enchentes nas grandes cidades, destruindo cada vez mais barracos, pois apóio fundamentalmente o descaso dos governos e as péssimas condições urbanas. Apóio o roubo nas obras públicas, os buracos nas estradas, os acidentes de carro, e a realização de edificações de terceira categoria vindas de licitações. Apóio as cartas marcadas e o desvio de recursos públicos. Antes que eu me esqueça, sou a favor do aumento de impostos em quantidade e em valor. Quero pagar por tudo cada vez mais, mesmo que não tenha retorno. Quero que aumente dia-a-dia o número de favelas e favelados. Sou totalmente contra a distribuição de renda, de riquezas e de recursos. Sou a favor do sucateamento dos hospitais públicos, do aumento dos planos de saúde e de suas mensalidades que ainda são muito baratas, e que falte cada vez mais medicamentos para todos, pois sou contra o desenvolvimento de pesquisas científicas e apóio a importação. Quero também ver cada vez mais ver meninos e meninas jogados nas ruas, exploração sexual, estupros, mendicância, para achar que minha vida está cada vez melhor. Apóio a escola que não tem compromisso com a educação, que só pensa em dinheiro e que possui professores incompetentes, assim como adoro os pais que não estão nem ai para a educação de seus filhos e não reivindicam nada. Apóio os pais irresponsáveis que delegam tudo. Apóio o aumento do número de igrejas e a diminuição do número de escolas. Quero que o dízimo seja aumentado, porque 10% são muito pouco para a salvação de uma vida. Apóio o aumento de pecados para cada cidadão. Apóio as superpopulações nas cidades e a falta de infra-estrutura, penso que tem mesmo é que se fazer a distribuição desordenada de lotes e trocar votos por camisetas. Apóio totalmente essa idéia de eleições fraudulentas, com caixa dois. Aliás, acho pouco, tem que ter o caixa três, quatro e cinco. Apóio o aumento das epidemias, a falta de informação, a falta de prevenção. Apóio o desmatamento, a poluição e o uso desordenado dos recursos naturais, que se danem as gerações futuras, pois não tenho nada a ver com isso. Sou contra o controle da natalidade e quero ver mais crianças desnutridas, mortas e jogadas nos rios. Apóio o que o IDH (índice de desenvolvimento humano) caía cada vez mais. Quero o Caje e a Febem como exemplo de escolas. Apóio o vandalismo, os ônibus lotados, a falta de lixeiras nas ruas, as calçadas quebradas, os asfaltos esburacados, e a ausência de banheiros públicos nas cidades. Quero sentir cheiro de mijo e bosta por onde passar. Apóio o aumento da dívida externa, o colonialismo e a ditadura a porretes. Apóio a tortura, a escravidão, o racismo e o preconceito. Apóio o aumento de balas perdidas e de contrabando de órgãos humanos. Apóio a TV e quero ver o Faustão e o Gugu diariamente. Apóio a redução de bibliotecas, a proibição de livros, queima e censura. Apóio o aumento dos preços para acesso à cultura e às artes. Sou totalmente contra a liberdade de expressão. Apóio as brigas de torcidas nos estádios de futebol. Quanto mais truculentas, melhor. E, ainda, apóio a prostituição das belas mulheres brasileiras, calientes e tropicais. Apóio o turismo sexual. Apóio toda a desgraça que esse país vive e ainda acho pouco. Quero mais. Apóio a falta de senso crítico, assim como apóio o aumento a ignorância e do analfabetismo. Apóio o moralismo e quero a morte total da ética. Finalmente, apóio irrestritamente a passividade do povo brasileiro. Apóio com todo o meu amor e solidariedade nosso jeitinho de ser, afinal cada um tem o direito de ser como é e ser conveniente com os seus próprios interesses. Vamos gritar juntos, todos juntos, neste ano de copa do mundo e de eleições, vamos gritar bem alto: abaixo a coletividade! E vamos cantar: somos brasileiros com muito orgulho! O melhor do Brasil é o BRASILEIRO! VIVA! VIVA! VIVA!

terça-feira, 16 de maio de 2006

Arte - pais e filhos





Sem título
Autora: Lalá
Técnica: mista
Data: maio/2006
******************

Crianças enxergam o mundo verde, florido, brilhante. Pegam restos de adultos e criam seus castelos. Os infantes produzem o que imaginam. Cortam, recortam, colam... Transformam! Sem dó, sem pudor, sem dor. Crianças agem. Adultos reagem. Que saudade de não ter crescido. Filhinha, salva a mamãe de ter emburrecido!

...

quinta-feira, 27 de abril de 2006

Bruna Surfistinha e arte brasileira

27 Abril, 2006





O fenômeno "Bruna Surfistinha", a ex-garota de programa que numa iniciativa visionária abriu debate e polêmica por todo o país, é agora assunto no blog narrando seus programas, Raquel Pacheco, é best seller com "O doce veneno do escorpião.

Não tenho dúvida da inteligência e ousadia (principalmente) de Raquel, a ex-Bruna, que numa iniciativa original polemizou sobre as máscaras que cobrem a prostituição, a clientela, e, ainda mais, revela o país do futebol e do carnaval que não consegue falar sobre sexo tão abertamente como se imagina.

Se temos mulheres peladas nas avenidas o ano todo, temos uma exposição corporal de um país latino e tropical, temos também um moralismo palpitante que constrói uma hipocrisia brilhante. No dia 20 deste mês diretores do Banco do Brasil em Brasília retiraram do Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) do Rio de Janeiro a obra "Desenhando em Terços", da artista plástica Márcia X, que integra a exposição "Erótica - Os Sentidos na Arte".


A exposição, que ficou em São Paulo durante quatro meses e foi vista por cerca de 56 mil pessoas, não sofreu na paulicéia qualquer reclamação sobre a obra censurada. Mas, na cidade maravilhosa dos biquínis fio-dental, topless e calor de 40º, a foto foi retirada, sob protestos da curadoria, por ter Banco recebido “centenas de reclamações”.


De um lado artistas indignados e retirando, em forma de protesto, suas obras da exposição, de outro, membros da sociedade católica Opus Christi, que tentam manter "Desenhando com Terços" fora do CCBB, entraram nesta semana na Justiça pedindo que a obra seja vetada em todo o país.


Ao que parece precisamos que os segredos de Bruna Surfistinha ganhem ainda mais destaque. Que seu livro seja mais que emblemático. Que a igreja mande vestir anjos nus. Que José, marido da virgem Maria, mãe de Jesus, que levou uma corneada de Deus e assumiu um filho que nem era seu, reivindique sua honra. Que o Cristo censurado, no enredo “Vamos vestir a camisinha, meu amor”, de Joãozinho Trinta, em 1989, volte às ruas. Se temos hoje bandeiras do Brasil cobrindo nádegas, virando bolsas, cangas, temos também outras leituras sociais. Ou então devemos levar os representantes da igreja para o plenário para impor moralidade política. Ora, que país é esse? Nesta hora fico com Nelson Rodrigues, todo casto é obsceno! É debaixo das batinas que mora o pecado... Alguém duvida?

sábado, 22 de abril de 2006

Aos poucos


22 Abril, 2006


Foi no dia 11 de novembro. Tia Carmelita não deixava espaços vazios. Como um polvo de mil braços, escrevia muitas histórias. O casarão da Rua 1 de Março tem sua fachada simples. Durante 93 anos minha tia cuidou de deixá-lo vivo. Coleções de livros, obras de arte, manuscritos inéditos. Guardava em cada cômodo os textos vivos de uma vida intensa e bem experimentada. Os móveis modernos misturavam-se aos adereços antigos. Objetos de viagem disputando lugar com outras quinquilharias da cidade. Caixinhas, caixonas, baús, discos, estatuetas, vídeos, linhas, agulhas de tricô, miçangas, máscaras, lenços coloridos e outras tranqueiras. Nossa, passear entre seus guardados sempre foi aventurar-se num mundo quase mágico. Não havia de se imaginar a próxima descoberta. Não se sabia se o teto nos comprimiria ou se nos tornaríamos gigantes. Tia Carmelita sabia onde encontrar desejos e transformar minutos entediados. Cabeça ágil, dedos voláteis. A organização de tudo tinha lá uma lógica, digamos, da perspectiva de um pintor barroco. Ela sabia onde estava cada nuance, cada detalhe, onde estava o ponto de fuga. Talvez por instinto ou pela própria natureza tudo se encaixava em algum lugar. Para muitos era uma desordem pura e detalhes demais. Não para ela e seu casarão. Naquela tarde de domingo, quando soube da herança, meu coração bateu em disparada ao futuro. Como tomaria conta da vivacidade impressa naquele casarão continental? Lá estavam os seis quartos com banheiros, a sala de estar, a sala de jantar, a cozinha, a área de serviço e suas dependências. Num afã, de quem pega um novo brinquedo para montar, comecei trocar de lugar as coisas. Sempre imaginava o que faria se aquele lugar fosse meu. Era lúdico e desafiador. Quando a bagunça parecia geral, depois de muito mexer daqui e dali, refleti porque não deixava tudo como estava antes. Que necessidade era essa de mexer, de mudar tudo? A casa tinha o jeito de tia Carmelita e agora havia que ter o meu jeito... Estranho isso... Cada armário que abria, cada buraco de esquecimento que encontrava, me arremessava contra mim mesma. Apunhalava minha consciência. Expunha minha vaidade. Engrandecia meu poder. O legado era agora meu. Percebia que alguns apetrechos se ressentiam na mudança. Uns se quebraram. Eu estava exausta de olhar para o mundo que estava pela frente a arrumar. Aqueles objetos conviveram por anos junto aos seus pares. Numa ordem praticamente natural. Por hora, o destino deles pertencia a mim. Sentiriam a falta de tia Carmelita? Melhor não pensar nisso. Estavam em minhas mãos. Sentada em frente à grande arca, com olhos empoeirados e pensamento saudoso, entendi que precisava ir ao poucos. Por eles, por mim e por tia Carmelita. Saí do casarão e ele me acompanhou até o dia clarear.

segunda-feira, 17 de abril de 2006

Eu voltei...

17 Abril, 2006


Feriado prolongado. Aracaju. Mar. Sol. Vento. Lua Cheia. Hotel em frente à praia. Água limpa. Orla aconchegante e cuidada. Gente bonita. Beijo na boca. Sem hora pra dormir. Sem hora pra acordar. Piscina azul. Cerveja gelada. Caranguejo gordo. Livros de primeira. Papos de alto nível. Filosofia com gente interessante. Dinheiro no bolso. Paisagem fotográfica. Conforto. Comida boa. Serviço de primeira. Lençóis cheirosos. Toalhas brancas. Sono tranqüilo. Abraço apertado. Música de qualidade. Muita gargalhada. Sem telefone. Sem compromisso. Sem hora marcada. Pés descalços na areia. Ondas beijando as pernas. Lagosta na brasa. Violão ao luar. Vida leve. Assim se passaram três dias em meu pensamento.

terça-feira, 11 de abril de 2006

Relaxando...



















11 Abril, 2006

Nos próximos dias vou tirar poeira dos ombros
e mergulhar nas águas de Aracaju...
Apesar do pouquíssimo tempo que passarei por lá,
serei intensa para desfrutar os prazeres
que só a beira-mar proporciona...

uma cervejinha...
um caranguejo...
um violão à luz de prata...
Serei brindada com uma lua cheia!

O cheiro de mar...
a brisa no rosto...
e um tempo legal para a cabeça...
Nossa, parece até minha primeira vez!

A emoção de poder reencontrar na areia
o descanço prometido para uma vida
que anda prá lá de atribulada!

Lá ficarei longe da vida virtual
e bem perto da natureza concreta...
Sem orkut, sem blog e sem MSN...

Não sei se olharei mais o sol
ou as estrelas...
Não sei se tomarei mais água de coco
ou caipirinha de lima...
Não sei se lerei mais linhas
ou usarei mais fala...

Não sei de nada, e como é bom não saber!

Vou para Aracaju com a alma livre
para pular ondas e sentir o sal correr pelo corpo...

Vou para Aracaju ficar mais perto do horizonte
e mais distante de uma vida de planalto...

Vou para Aracaju descansar sob coqueiros,
e adormecer em redes de balanço...

Vou para Aracaju chegar na ponta do mapa
e do pés para ver melhor o cometa...

É gente, finalmente vou para Aracaju
e quando voltar contarei o que se passou por lá...

beijão pra todo mundo!!!

Fui....

segunda-feira, 3 de abril de 2006

Sobre a criatividade


3 abril, 2006


Acredito que toda criação exige aquecimento. Assim como para correr ou caminhar precisamos nos alongar, para escrever precisamos esticar o olhar e aquecer as idéias. Para pintar precisamos esquentar os pincéis. Para o sexo precisamos das preliminares. Então, aquecimento, concentração, acolhimento são essenciais para a criatividade. No meu caso, uma conversa me aquece para uma crônica; a leitura de um livro gostoso me aquece para a leitura de um texto mais chato ou técnico; desenhar sem compromisso, rabiscando, me aquece para a pintura de um quadro... Cada um tem sua forma de aquecimento, de alongar as idéias e o espírito. O importante é encontrar o próprio jeito de caminhar...
.

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2006

Auto-retratos





ontem e hoje, 2006



Alternando entre cores, semblantes, procuro alternativas.




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quarta-feira, 25 de janeiro de 2006

O que é mesmo fidelidade?





Por Solange Pereira Pinto

Lançado em 2005 pela editora Agir, o livro Amor em segredo, de Sonia Rodrigues, traz crônicas autobiográficas que revelam o olhar da escritora, filha do amor e da “infidelidade” de Nelson Rodrigues, sobre abordagens variadas do tema amor e sexo.

Na primeira parte da obra, a mais interessante na minha opinião, Sonia fala de intensidade, armadilhas, amor, infidelidade, fidelidade por obrigação, sobrevivência, cultura de segredos, família, transgressões, perversões. Enfim, discorre sobre a gama de situações que envolvem as relações e o amor entre homem e mulher e família.

A autora também repete quanto a sua vocação para a escrita e logo no segundo texto adianta “é bom sobreviver às histórias, mas o melhor mesmo é ter o que contar”... “Se as pancadas não doessem, não precisaria transformá-las em palavras, em histórias...exorcizo os tigres com a palavra. Às vezes, ganham eles. Outras, ganho eu...quando a gente sobrevive, as recordações ficam divertidas”. Amor em segredo é de leitura rápida, estrutura e linguagem simples, para quem gosta de autobiografia em forma de crônica e devaneio.


Trechos do livro:

“Não sei o que é pior. Amar muito e se machucar ou amar certo e não se machucar. Voltando ao meu pai, à minha origem apaixonada: no amor a gente não faz o que quer, faz o que pode.”

“Só isso. Amar quem a gente quer amar, trair quando trais é a única alternativa, contar histórias para sobreviver a elas.”

“Preciso menos de quem me traduza a vida. Mas ainda preciso de companheiros de versão.”

“Eu fui infiel naquela vez e, em todas as poucas vezes em que fui infiel às pessoas que amo, o fui porque minha sobrevivência estava ameaçada.”

“Compreender que, na prática do amor, é impossível seguir modelos. Comprovar que a fidelidade não depende da gente, e simj da pessoa amada. Reconhecer que a fidelidade por obrigação é uma virtude vil. É indigno, é vil ser fiel a quem nos trai, a quem não nos ama como achamos que merecemos ser amados. Por isso, me espanta quando as pessoas acreditam que podem amar mal e ser poupadas. Não são. Essas pessoas se enganam. Por trás, na surdina, as esposas, os maridos, os filhos, os amigos estão se vingando do desamor”.


“Conformada, não aprenderia a quantidade de coisas que aprendi, não freqüentaria ambientes diferenciados dos que freqüentam meus pares, não bateria de frente com a omissão de uns, a truculência de outros, as dificuldades e incoerência de pessoas próximas.”

Eu, acompanhada

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