Aviso importante:

A visualização deste blog fica melhor em computador. Todos os textos (e esboços) postados neste blog são de autoria de Solange Perpin
(Solange Pereira Pinto). Portanto, ao utilizar algum deles cite a fonte. Obrigada!

terça-feira, 18 de julho de 2006

Novamente apaixonada

Ainda levarei você para a cama por muitos dias...



Já perdi a conta dos meus amores. De alguns me lembro com mais emoção e sempre os procuro para um reviver. Quando o peito aperta e me sinto muito aturdida e sozinha é deles que me recordo. É neles que busco um colo, o consolo, a palavra amiga. Um outro enlace possível. Eles me fazem crer que não só um E.T. e que tenho e já tive pares.

São encontros quase insólitos. O primeiro, grande e verdadeira emoção, eu tinha uns 13 anos, era estrangeiro, e foi uma amiga da escola quem o apresentou. Depois, tive paixões que nasceram de tardes perambulando em shoppings. Mais tarde, em meio a uma confusa separação, foi me revelado aquele que mudaria totalmente minha forma de agir no mundo, dessa vez um homem sem nacionalidade certa. E, ainda, um mineiro virginiano, que, especialmente, me conquistou pela internet, o Rubem. O último (e atual) encontrei em um café, no início desta semana.

Estava lá procurando gente atual, que ouvisse as minhas angústias e falasse das próprias. Estava praticamente sem esperança quando, de repente, uma voz vinda do longe, de uma prateleira de canto, me chama “é preciso duvidar de tudo”... Olhei para aquele “nanico”, quase encolhido perto dos grandalhões que estavam próximos e pensei é você! Uma roupagem lilás e sóbria, ao mesmo tempo aconchegante.

Na mesma hora, fiquei encantada pensando o que seria aquela senha “é preciso duvidar de tudo...”. Imediatamente não consegui mais tirar meus olhos dele e, feito sede de deserto, comecei a sugar suas palavras. A primeira frase foi “minha vida foi produzir”. E eu queria que ele me dissesse mais.

Comecei, então, atentamente a sorvê-lo, me deliciando a cada nova fala. Quis saber tudo sobre sua vida. Onde nascera, quem eram seus pais, se tinha irmãos, o que motivava sua vida, se tinha filhos, mulheres. Tudo. Senti-me novamente com 13 anos quando conheci Friedrich.

Na medida em que eu mais sabia sobre ele, ainda mais curiosa ficava. Ele era um dinamarquês, nascido em maio (taurino!), filho de um comerciante e de uma doméstica. Caçula de sete irmãos, quando nasceu seu pai tinha 56 anos e sua mãe 45.

Apesar de melancólico como seu pai, dizia não poder ser mais um homem entre tantos outros homens (não era mesmo!). Não aceitava idéias vindas de cima para baixo, sem questionamento. Aos 28 anos, fez sua tese de doutorado sobre Sócrates. Eu começava a admirar seu brilhantismo.

Para ele, o mais importante que a busca de uma, ou algumas verdades gerais, era a busca por “verdades” que fossem significativas para a vida de cada indivíduo, para cada um. O que interessava era o existir, experimentar, vivenciar e não seguir “teorias”. Completava dizendo que os teóricos eram como construtores de grandes castelos, mas que na realidade moravam em celeiros e que a verdade é subjetiva, pois o que é realmente importante é pessoal.

Nossa! Como ele me lembrava Moreno, um amor que conheci aos 32 anos e que repetia a importância do aqui-agora, do ser espontâneo e criativo, e da verdade do sentir de cada um.

Eu ficava cada vez mais inebriada e sua história continuava. Descobri que gostava de usar muitos pseudônimos e que cada um era responsável por defender uma idéia diferente para não haver “confusões” com sua própria pessoa, pois não passaria um dia sequer de sua vida sem escrever pelo menos uma linha. Talvez, uma forma de se proteger e ao mesmo tempo não se calar (será?).

Atentamente eu o ouvia falar das escolhas em ser o que se pode ser ou “uma cópia” daquilo que ditam a sociedade e a pressão cultural. Dizia das inúmeras possibilidades, da liberdade de ir por um ou outro caminho e a angústia que vem daí, pelo fato de se “existir”. As transformações pessoais, as mortes e renascimentos diários, que "a angústia é a possibilidade de liberdade: somente a angústia, através da fé, tem a capacidade de formar, enquanto destrói todas as finitudes".

Meus olhos brilhavam, minha paixão estava consumada. Eu queria aquele homem cada vez mais perto de mim para ouvi-lo, absorvê-lo, enamorar. Assim, foi meu primeiro encontro
Sören Kierkegaard. Levei-o para casa. Deitei-me ao seu lado. Tivemos nossa primeira noite, entre tulipas de cerveja bem gelada.

À meia luz, compartilhamos nossas incertezas, medos, desejos. Lá estava ele, jovem, me ensinando que "Se alguém souber tirar proveito da experiência da angústia, se tiver CORAGEM de ir mais além, então dará à realidade outra explicação: exaltará a realidade e, até quando ela pesar duramente sobre ele, recordar-se-á de que ela é muito mais leve do que era a possibilidade". É preciso duvidar de tudo... Exceto de mim mesma!




Solange Pereira Pinto
Brasília, 18 de julho de 2006.




sábado, 15 de julho de 2006

Um lugar para cada coisa...

Na madrugada, Kierkegaard revelou que para cada idéia, cada trabalho que realizava, tinha uma mesa específica preparada com papéis, pena e tinteiro. E, provavelmente, muitos livros. Ele era rico, e viveu para pensar, escrever e produzir. Morreu pobre, defendendo suas idéias e lutando por um mundo que considerava melhor, mais justo. Seria uma forma de organizar melhor seus pensamentos? Uma maneira de não se perder na fecundidade de sua existência? ou apenas uma mania?

Sinceramente, eu saudavelmente o invejei.

Quisera eu ter espaço!
Para caber a minha loucura.
Acolher minha lucidez.
Quisera eu ter estantes!
Para ninar meus preferidos.
Mirar os desafetos.
Quisera eu ter mesas!
Para libertar os papéis e as tintas dos armários escuros.
Concretizar minhas fantasias.
Quisera eu ter dinheiro!
Para dedicar meu tempo ao pensar.
Mostrar ao mundo minha infinitude.
Ou, melhor, quisera eu não pensar!
para não precisar de espaço, estantes, mesas e dinheiro para criar.

Contudo, não posso lançar a maldição,
ainda me restam um laptop e um blog,
para esta vida não atrofiar ainda mais.

Brasília, 15 de julho de 2006
...

sexta-feira, 14 de julho de 2006

Quanto tempo dura?





Por Solange Pereira Pinto em 14/07/2006

Arte: Ana Luísa - 6/07/2006







Parece feita de sopros. Está lá. Sem forma. Vazia. Esperando. Que dela se apropriem. Alguns enchem os pulmões com vontade. Vão tão forte que estoura. Outros não têm coragem. Chegar perto. Medo. Possível pipoco. Há aquele que já ouviu estampidos. Não desiste. Tem quem nem perceba. Ela está a sua frente. Para ser preenchida. Um que chega. Olha. Curiosamente se encanta. Pega. Arfa. Transforma. Agarra. Brinca. É sua. Única. Goza. Como se jamais fosse extinguir. A vida.

terça-feira, 11 de julho de 2006

A vida é bela... um clichê necessário






Embalada pelo Geraldo Azevedo, CD Raízes e Frutos, entrei na caravana do vinho Bolla Cabernet Sauvignon safra 2004. “Corra não pare, não pense demais...”. Um toque no MSN, pela mensagem de “luto” daquela que luta, está feito o convite. “Repare essas velas no cais...”. Um incenso de alfazema para espantar coizim ruim. À taça pela metade, se junta a outra antes vazia, nas brumas anoitecidas de insônia e um rastro de tristeza. Vamos ao papo... “Que a vida cigana... É caravana...”. Do encontro virtual à amizade real. Gargalhadas, existência, divergências, convergências, planos sobre loucura e responsabilidade... “É pedra de gelo ao sol... Degelou teus olhos tão sós”...Logo, logo, precisamos do Santa Helena, pois Baco nos inspirava a degustar mais doces uvas de prazer. “...Num mar de água clara...”. Muda a trilha... "um pedaço de qualquer lugar... nesse dia branco...". Massagem nas costas, mãos carinhosas, corpo macio... o som... a melodia... o mel... “talvez seja real... chegou... por quanto tempo... amanheceu...o impossível não é pecado...” Acordei... leve... flutuante... “abra as janelas do quarto...como a laranja e a sede a gente ainda quer se encontrar...”. Bom Dia!!! Assim, maiúsculo, doce, necessário...

11 de julho 2006.
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Brasil: por quanto você aluga o seu quintal?

Photo ADEME: Gilles MERIODEAU


Brasil, terreno baldio da Europa
11 de julho de 2006

Ouvi outro dia uma notícia sobre a importação de pneus usados e descobri que o Brasil é “lixão”, uma verdadeira lata de lixo do “primeiro mundo”. A conversa é a seguinte: o camarada vai consumindo coisas, descartáveis, de uso determinado, e, de repente, tem que se livrar da coisa. Contratar um container é caro. Então, o que ele faz? Vende a sucata para o vizinho do outro lado do quarteirão dizendo que tudo aquilo é um grande negócio. O vizinho que é pobrezinho de marré marre marré de si, vai lá e compra.
Em 2005, o país comprou cerca de 11 milhões de pneus usados por meio de liminar. O secretário-executivo do Ministério do Meio Ambiente (MMA), Cláudio Langone, explica que cerca de 30% dos pneus usados que chegam ao Brasil não podem ser reutilizados, por estarem em más condições.
O interessante é que a entrada de resíduos sólidos no Brasil não está prevista na legislação. Existem instrumentos que proíbem a importação, mas um grupo de parlamentares articula a regularização.
O assessor tecnológico do deputado Ivo José (PT-MG), Walfrido Assunção, diz que a importação do pneu europeu se justifica porque a carcaça do brasileiro não tem condições de ser reformada. Ele explica que os pneus usados da Europa rodam menos e em estradas melhores.
Nessa hora não entendi nada. De um lado, o MMA lutando contra a importação e, de outro lado, parlamentares a favor. É isso? Decerto, está faltando balanço para a criançada em Minas Gerais.
As notícias dizem que a União Européia, interessada em abrir as fronteiras brasileiras para os seus pneus, solicitou a realização de um painel arbitral e o Brasil, que pretende mantê-los longe, será representado na OMC, em Genebra, por uma delegação composta pela ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, e outros integrantes do governo. Os brasileiros usarão um argumento ambiental para tentar ganhar o direito de continuar proibindo a entrada de pneus de segunda mão.
Pelas estatísticas do MMA, a Europa produz anualmente cerca de 300 milhões de carcaças e despeja 26% em aterros sanitários – o que agora é proibido por uma lei que entrou em vigor no mês passado. "As destinações que eles podem dar dentro da Europa são todas muito caras. A alternativa é enviar esse lixo para países em desenvolvimento e, por isso, querem que o Brasil autorize a entrada", explica Langone, que prevê conclusão do processo até outubro.
Então, minha gente, será que além de quase tudo por aqui terminar em pizza, continuaremos sentados nos pneus? Parece que a colonização continua, o tráfico agora é de pneus usados. Ah, não serve mais? Manda lá para o Brasil... Lá pode tudo! É um pessoal bem-cordato...Um país recauchutado...



Notícias na íntegra:

sábado, 1 de julho de 2006

Brasil: mau pressentimento para as próximas décadas

Brasil, 1.7.2006
Solange Pereira Pinto



Carnaval, futebol e copa do mundo são espetáculos adorados pelo povo brasileiro. Já o show da eleição política é aclamado pela elite dominante. Contudo, são, ambos, momentos de comoção para um lado ou para outro. No final das partidas, a semelhança é que ninguém quer perder.


O Galvão Bueno disse que faltaram trabalho e disposição dos jogadores da seleção do Brasil no jogo contra a França. Eu pergunto? Quando é que não falta ao povo brasileiro disposição? Respondo: apenas nos espetáculos. O que não significa que o entusiasmo seja o mesmo ou de nível equivalente (de interesses) para atores e platéias.


Durante o ano todo, a nação não tem pique para reivindicar nada. Ficam acomodados na sua tarefa de brasileiros descamisados, para de quatro em quatro anos se emperiquitarem de bandeiras, camisas e enfeites verdes e amarelos. Enquanto bianualmente se revezam os políticos entre cargos federais, estaduais e municipais, da mesma forma, com suas bandeiras, adesivos e camisetas, por sua vez acomodados nos salários, nas folgas das votações e na ausência de efetivo trabalho. É festa, ritmo de festa. Quem quer dinheiro!


Por outro lado, dizem que a copa do mundo é vendida. E, o que não é vendido neste mundo capitalista? Isso é uma vergonha, diria Boris. Mas, voltando à capacidade de mobilização dos brasileiros (povo na copa e elite na eleição), quando vamos ver união de esforços para realmente fazer crescer e transformar este país? Vi, numa comunidade do orkut, uma mensagem interessante e dizia (vale a pena transcrever):

“O Brasil é subdesenvolvido não por torcer. Na hora de torcer a tal ‘acomodação’ desaparece, né?! Incrível como vizinhos, que mal se falam em outros períodos, se unem empolgadamente pra enfeitar as ruas com bandeirolas e colorir tudo de verde e amarelo... é bonito ver o empenho pra deixar tudo bonito e cheio de bandeiras do Brasil, né?!! E porque não se unir assim também pra realizar mutirões de limpeza na quadra, ou consertar avarias em escolas do bairro ou ajudar uma instituição de caridade??? Todos, torcendo, esquecem das diferenças e se unem em prol de futebol!! Que lindoooo!! Mas, em prol de derrubar corruptos imundos envolvidos com 'mensalões' nada feito, só sabem ficar com a bunda no sofá resmungando! Parabéns... é bem por aí. O que acha que os poderosos querem? É a política do pão e circo! Um país, onde o centro de todas as atenções em ano de eleições, tanto da mídia, quanto dos debates entre as pessoas na rua, é o futebol e o desempenho da seleção na Copa, não pode ir pra frente mesmo. Torcer pode. Mas, no Brasil há supervalorização do ato de 'torcer'. Não pode se deixar levar por essa anestesia coletiva! A sensação do povo é essa: se o futebol está bem, o país também está, então os problemas foram amenizados. Mas é claroooo, ganhamos a Copa! Estamos felizes e nem um pouco descontentes com os rumos que país toma! Lógico que não esqueci que sou brasileira.. aliás, lembro disso não só de 4 em 4 anos. Se sozinha não posso fazer muito pra mudar o rumo das coisas, que pelo menos minhas palavras sirvam pra abrir os olhos de algumas pessoas... e que elas passem isso adiante e, que, essa corrente possa, talvez, quem sabe, acordar o país e fazer que com esse espírito patriota de união e empolgação ultrapasse a questão da Copa e seja aplicada no nosso cotidiano, de modo que o objetivo maior seja não ganhar uma taça, mas sim por o país nos eixos”.


O pior é que a garota, autora da mensagem, foi muito criticada por pensar e falar o que está aí acima.


Lendo os jornais da semana, antes do jogo de despedida do Brasil, que o ídolo mundial, Pelé, comentou “estou com um mau pressentimento. Primeiro, a França ganhou as últimas duas vezes contra nós; segundo, só uma vez uma seleção sul-americana, o Brasil em 1958, conseguiu ganhar uma Copa na Europa e, terceiro, os favoritos nunca foram os campeões do mundo”. Na ocasião, o lateral-esquerdo Roberto Carlos ironizou as declarações de Pelé e afirmou que o ex-jogador deveria ficar quieto e representar melhor o povo brasileiro. Como assim?!


Veja bem, o Pelé representando o POVO BRASILEIRO. Boiei... Daqui a pouco teremos que encher o Congresso Nacional de mulheres siliconadas carnavalescas representando o povo brasileiro. Realmente, me questiono: quem representa o povo brasileiro? Ou melhor, quem é mesmo o povo brasileiro? O atacante Henry, antes do jogo Brasil e França, insinuou “brasileiros jogam bem porque não estudam”.


Como preciso pensar muito para responder a essas indagações sobre “quem é quem”, prefiro lucubrar que a Seleição 2006 está batendo um bolão de despreparo, ignorância, acomodação, imoralidade, falta de vergonha, e outras coisitas mais, representando muito bem a nação tupiniquim.


Enfim, o Brasil volta para casa, e as pessoas estão mais tristes porque não terão “feriado” na quarta-feira, porque terão que trabalhar, que voltar à vidinha sem festa, sem empolgação, porque terão que guardar a parafernália verde-amarela (pois em eleição não se usa mesmo).


Conclamos a todos, tal como a menina do orkut, vamos reescrever o lema da bandeira brasileira e trocar o “Ordem e Progresso” pela “Ordem no Congresso”, pois o meu pressentimento é que o Brasil não sairá vencedor nas próximas décadas.



Eu, acompanhada

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