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A visualização deste blog fica melhor em computador. Todos os textos (e esboços) postados neste blog são de autoria de Solange Perpin
(Solange Pereira Pinto). Portanto, ao utilizar algum deles cite a fonte. Obrigada!

segunda-feira, 3 de março de 2008

Vid(inha)




- Nossa, mas você fará uma “festona” para sua filha?
- Sim, por quê?
- Isso é uma bobagem! Gastar dinheiro à toa.
- Mesmo? Você acha?
- Sim! Faça uma fest(inha) que tá bom. Ela nem vai notar...
- Será?


Era sim muita grana para uma mãe professora com salário de três dígitos apenas. Era sim uma “festona” com direito à decoração diferente, animação variada, muita guloseima e lembranc(inha), e com, até, o mágico mais famoso da cidade. Era sim uma festa de aniversário para 60 crianças e quase 100 jovens e adultos. Era sim uma comemoração dos sete anos de vida de uma menin(inha) linda, preciosa, única.

- Ah! Deixa de ser boba! Você pode gastar essa dinheirama com algo mais concreto.
- É?
- Sim, mulher! Coisas que ela precisa. Roupas, um brinquedo legal ou até guardar na poupança para quando ela crescer.
- Ah...


A histor(inha) acima ilustra a época em que vivemos. Mentira. Mostra os valores que cultivamos. Melhor dizendo, aponta para onde devemos olhar e crer. Festa é para quem tem cacau “sobrando”. Festa é “desperdício” de tutu. Quem nunca ouviu falar de meninas que trocam o tradicional debute por dinheiro? Sim. Fazer festa é gastar grana para “encher” a barriga dos outros. Deixa de ser boba... Aproveite SOZ(INHA).

Comemorar um aniversário “espetacular” é praticamente uma heresia para pobres e remediados - eta palavr(inha) feia e insensata! – pois é tido por um gasto com algo sem “utilidade”. Capital jogado no lixo!


- Pense bem quanta coisa você pode comprar com essa fortuna empregada numa fest(inha) de criança?
- É, poderia sim...
- Então! Faça um bol(inho) e chame uns amigu(inhos) que já está muito bom.
- Sei...
- Ela nem vai se lembrar disso depois. Pode apostar.
- Talvez...
- Vá por mim. Faça uns doc(inhos) e uns salgad(inhos), um enfeit(inho), uma vel(inha), uns balõez(inhos) e pronto!


Investir em sonhos, fantasia, afetos e bem-quereres parece cada vez mais um investimento arriscado e fora de propósito. Festão (para não ricos) está em baixa na bolsa de valores humanos. Ter a adrenalina do coração disparado durante um jogo com o palhaço; receber convidados, ter a companhia dos amigos, comer gostosuras, encher os olhos de beleza ao brilhar da purpurina, gargalhar perto de quem se ama, explodir de alegria por que um monte de gente veio ao seu aniversário parecem privilégio de poucos afortunados. Guardar na memória cheiros e emoções só a preços baixos.

Celebrar o aniversário é investir em acolhimento. É enaltecer um ser humano que nasceu e vive por mais um ano. É desprendimento e generosidade para com o outro. É cortesia. É reverência. Uma festa de aniversário grandiosa por parte daquele que não tem “sobrando” pode ser a tradução de uma mensagem cada vez mais difícil de repassar: não tenha uma vid(inha), você é importante tanto quanto outro qualquer.

Depois que o “big é big” pára cada um retorna ao lar e a aniversariante de sete anos, que mal se contém de felicidade, deita na cama com os olhos brilhando e diz “mamãe hoje é o dia mais feliz da minha vida”. E isso não tem preço. Ou melhor, custou uma dinheirama... Mas não em vão para quem pretende ofertar um “vidão” de afetos, amizades, vínculos, e valores; para quem talvez queira mostrar aos filhos que há valores mais abstratos (do que concretos em si) que valem o cultivo.

Não era uma fest(inha) qualquer, artificial, comprada, banal, e sim um festão construído pedaço por pedaço; pensado e preparado para ser o maior, o melhor, o mais bonito, o espetacular, simplesmente por que aquele dia era para dizer à filha quanto ela é única e merece aplausos. Muitos aplausos da vida.

Eu, acompanhada

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