saudades do que não existiu,
mas que de alguma forma eu inventei em desejo...
saudades do que poderia ter sido,
mas não havia como ser...
saudades do que ouvi dizer,
mas ninguém nunca falou...
saudade estranha abraçada com a tristeza,
mas que eu nem sei exatamente do quê.
Aviso importante:
A visualização deste blog fica melhor em computador. Todos os textos (e esboços) postados neste blog são de autoria de Solange Perpin
(Solange Pereira Pinto). Portanto, ao utilizar algum deles cite a fonte. Obrigada!
sexta-feira, 23 de novembro de 2012
quarta-feira, 1 de agosto de 2012
estímulo
de repente meu pai, que mora longe e raramente nos falamos, me liga e diz: vc é minha musa, a primeira de todos os filhos. a mais inteligente, com QI 180 (isso é bom?, pensei). "vc pode ser o que quiser minha filha. pode chegar aonde quiser". É tão bom a gente ouvir palavras de estímulo, ne? #emocionei
sexta-feira, 6 de julho de 2012
E a certeza me perguntou
à Miza Vidigal que, desde meu nascimento como mãe, tem me ajudado a matar dúvidas, a Ana Cláudia e ao Manoel Rodrigues que têm o dom tirar dúvidas cinzentas.
quando a
dúvida morreu
Por Solange
Pereira Pinto
Em 5.7.2012
Quando a senha do banco entrou e a máquina vomitou os extratos dos últimos seis meses, eu tive certeza. O problema é que quando matei uma dúvida, nasceram outras dez. Eu explico.
Foi agora mesmo, quase de repente, que a certeza veio. Também por um triz ela pode ir embora. Sei disso. Estou aqui tentando contê-la entre os dedos, para ela me aconselhar imediatamente. Se você me perguntar se são bons os conselhos que a certeza tem, já não tenho tanta certeza. Mas tento ouvi-la, pois a dúvida-mor já perturbou demais. Sei que a atual é uma certeza escorregadia, igual quando a gente tenta segurar a espuma do mar com as mãos. Enquanto a certeza foge, a dúvida perpetua. Oh, sina!
Voltando ao assunto. E não é que a
primeira pergunta que veio depois da certeza aparecer foi “quando morreu a
dúvida”? Isso deve ser sabotagem, só pode!
Em uma situação quase congênita, a
dúvida tem me rondado os dias; melhor dizendo, os meses, os anos. Uns 30
talvez. Como um cão pidão, ela não late, nem me larga. No café da manhã,
refleti sobre essa entrona de outrora. Vi que não é filha única, não tem uma
forma somente, tem duração imprevista e alguns combates possíveis.
Percebi que a dúvida não é ostensiva,
feito um guarda de trânsito a sinalizar com apitos e braços abertos. Ela é como
poeira em móvel de ipê, quase invisível; marcando as pontas dos dedos de
marrom. Ela é assim mesmo, um tanto invasora das digitais. Ontem, ela se fez
notar quando peguei o bilhete grudado no monitor da televisão. Ai que dúvida
chatinha!
Ela, muitas vezes, chega num envelope
do correio; quando abro e vejo que não sei bem o que fazer com aquela notícia.
A dúvida já chegou por e-mail, torpedo e telefonema. Até por panfleto no
para-brisa a danada me pegou no estacionamento do shopping. Eu era bem mais
jovem quando isso ocorreu. Depois disso, aprendi. Eu jogo o folder direto no
cesto, para a dúvida não ter chance de entrar comigo no carro. Dúvida quando
cola é um saco para tirar.
Tenho notado que ganhei mais dúvidas
ultimamente do que na década de 80. Ou foram elas que mudaram de forma e jeito?
Será? Temos sempre um tanto igual de dúvidas? Hoje tem uma turma delas aqui
batucando o meu peito e desorientando o meu juízo. E, por isso, vou falar dela,
fazer fofoca mesmo. Dane-se! Cansei!
A dúvida vem no ar mais seco e também nos
dias chuvosos. Na primavera, no verão, no inverno e no outono. Ela não tem
estação preferida, ela pode me orbitar em qualquer clima ou tempo, época ou
data comemorativa. Em festas de aniversário, principalmente, confesso, ela tem
me dado um trabalhão. E, quando insiste demais, me sento com ela no sofá,
encaro seu centro, fuzilo e vejo um DVD antigo para relaxar. Opto por ficar
comigo, então ela vai embora batendo o pé porta afora e convidando, vez por
outra, a culpa para entrar. Ela é terrível; cruel até.
Acho que ela gosta de madrugadas.
Pensando bem, da hora do almoço também. Ah, sei lá. Como um sino, a dúvida
chega a me ensurdecer nos momentos mais frágeis. E quando ela combina com os
hormônios oscilando? Aí é quase doença. Eu até choro. Choro de dor de dúvida.
A dor de dúvida é estranha. Ela pode
aparecer na garganta, na cabeça, na coluna. Em uma amiga, ela virou pneumonia.
Na outra, torcicolo. Dependendo de onde ela se instala, dói até sangrar. Já
tive dúvida que quase me matou do coração, pulsando a quase 120 batimentos por
minuto. Foi dúvida maquiada de pânico, tenho quase certeza de que viraria
síndrome em pouco tempo.
Lembro-me que, uma desse tamanhão, só
foi embora quando radicalizei e chutei o mestrado precipício abaixo. Fui tão
corajosa que fiquei olhando a dúvida se espatifando lá longe. Não é que a
danada parece ter sete vidas e vez por outra se esconde em um livro ou outro
daquele tempo? Afff, dá canseira tirar a dúvida de tudo. Haja faxina!
Recentemente, descobri algumas formas
de perceber se ela está por perto. Sabe quando você não consegue levantar da
cama em uma rotina lotada? Pode ser ela lhe enfraquecendo para você não
matá-la. A dúvida se mantém esbelta quando se alimenta de angústia com calda de
sofrimento. Ou quando engole mais uma fatia de baixa auto-estima, daquelas bem
magrinhas de autoconfiança.
Há casos em que ela também avisa a
chegada, quando nos afastamos cada vez mais do trim-trim-trim do telefone,
receando ser a pessoa XYZ. Pode ser ela nos mostrando nossas fantasias e
inseguranças mais infantis. A dúvida dá risada quando a gente constrói castelos
de ilusão e medos. No pique-pega, atordoa. Ela embaralha o nosso querer sumir
com o querer ficar. E, assim, a gente se esconde junto com ela.
Porque a dúvida gosta mesmo é de fazer
companhia. Tão egocêntrica que é, quer a gente pensando nela todo o
momento. Dúvida é marrenta. Ela dá um jeito de chegar e dar seu “oi” até
no horário político, interrompendo a novela que ajudava a gente a se livrar
dela. A dúvida se multiplica feito piolho; não sai da cabeça e coça as ideias
deixando as sinapses arrepiadas de tristeza. Se a gente se livra dela em uma
decisão, aparecem logo outras tantas. Alguém sabe qual é o remédio que mata
dúvidas para sempre?
Agora, problemático é quando a dúvida
paralisa. Dizem que uma facção duvidosa se chama dilema, do tipo “se ficar o
bicho pega e se correr o bicho come”. Detesto essas dúvidas mais sofisticadas,
adultas mesmo. O antídoto que normalmente uso é a amiga ética e a prima
lealdade. Elas têm me ajudado a mandar um monte de dúvidas embora. Situação
pior vem com a aporia, que impossibilita qualquer conclusão ou resposta. Essa
dúvida é de matar a gente. Haja terapia.
Nessa multiplicação moderna de dúvidas
e maior escassez de certezas, tenho muita vontade de me mandar para a Terra do
Nunca, subir no abacateiro para ver o sol se por e a noite alertar que menos um
dia existe. Mas voltar à infância não dá, teria por penalidade um turbilhão de
dúvidas por vir. Melhor não.
Ou quem sabe, poderia me mudar para
longe das cidades cheias de trânsito, contas, futilidades, consumo exagerado,
comparações cruéis, modelos inatingíveis, informações desencontradas, exibições
de todo tipo e, assim, deixar para trás esse modelo metrópole que fabrica um
monte de dúvidas por segundo, antes mesmo de a gente piscar. O problema é que
não sei qual dúvida se acomodaria sorrateira em minha bagagem.
As dúvidas pequenininhas são também
ardilosas e intrigantes. Claro que não estou falando daquelas dúvidas bobinhas,
que aparecem na sorveteria entre os potes de sabores tão exóticos
experimentados quando estamos sozinhos. Nem me refiro àquelas transparentes
grudadas nas vitrines de bolsas e sapatos coloridos, que geralmente pulam em
nossa frente durante o sobe e desce dos olhos.
Estou falando daquele tipo de dúvida
que domina um jantar inteiro, quando titubeamos entre dar ou não o “primeiro
beijo” em quem estamos apaixonados e acabamos de convidar para uma saída “sem
maiores interesses”. Obviamente, que esta não chega aos pés daquela
“casar ou não casar” e mais longe ainda está da dúvida derradeira “separar ou
ficar numa relação emocionalmente insatisfatória”. Essa me pegou por três anos
antes mesmo de tentar o “sim”. Uma dúvida para lá de maluca. Pensando bem, o
tamanho da dúvida quem dá é cada um, né? A dúvida de um, pode ser a certeza do
outro. Tem medida igual não. Esquece.
Como acabar com elas? Acho que cada
pessoa tem seus segredos e cria suas armadilhas para despedaçar as dúvidas.
Tenho uma amigona que é craque em matar um monte das minhas. Ela me conhece tão
bem e faz perguntas tão inteligentes para a dúvida, que ela sai correndo de
vergonha e não volta mais. Em compensação, um amigo parece plantador de
dúvidas, a gente leva uma e volta com 50; ele devia ser economista. Deixa pra
lá.
Já destruí dúvidas com livros, no
Google e em manuais. Na terapia me livrei de algumas dúvidas de mim e
ganhei outras. Com especialistas, derrubei várias de vários níveis e temas.
Perguntando “na lata” também. Revelando-a aos cúmplices dela idem (porque tem
gente que gosta implantar dúvida como se fosse um chip nos miolos do outro).
Escondida é que ela não pode ficar. Se tem uma coisa que dúvida foge é de
plateia e palco. Ela gosta de ficar dentro da cabeça, rodopiando na mente, construindo
as paranóias e os absurdos do “se” e “se” e “se”. Dúvida grandiosa, orgulhosa,
exposta na mesa do jantar, para todos, é quase assassinato a sangue frio. A
dúvida detesta tamanha ousadia.
Aliás, uma acabou de me soprar no
ouvido que não me largará até morrer. Essa é maior que o pé de feijão do João.
Será? Fiquei com medo dela. Não! Saia daqui agora, está me ouvindo? Não vai me
obedecer? Então vamos ver quem ganha essa luta!
Entendi quem você é e agora me
desafiou! Vou lhe tornar tão imensa, tão grande, tão gigante, que você ficará
tão evidente, mas tão evidente, que será impossível não olhar para você todos
os segundos do hoje ao amanhã. Você ficará do meu tamanho e, então, será você
ou eu. Você está me deixando uma única saída: matá-la no enfrentamento! Não
ouvirei mais os seus “senões” e “porém”.
Tomara que a minha coragem esteja
antenada escutando essa conversa e chegue a tempo para agir ou tudo ficará na
mesma. Dai, mais uma vez, ouvirei os queridos amigos dizendo: “calma, vai
passar... dê tempo ao tempo! Amanhã será outro dia”. É verdade que
algumas dúvidas fracotes morrem quando o sol nasce, mas outras prosseguem pela
eternidade quando não olhamos direito para elas. Cansei de alimentá-las de
covardia e hipóteses negativas. Levei meia dúzia delas ao papel e materializei
sua dimensão. Estou pronta.
Logo após sair do caixa eletrônico,
picotei os extratos bancários, fiz confete deles lixeira abaixo, levantei a
cabeça, mirei a porta, entrei no carro, rasguei a alma e, sinceramente,
perguntei: quantas dúvidas estão na fila? Mande uma a uma, que estou pronta
para enterrá-las. “Enquanto houver sol, ainda há
de haver saída. Nenhuma idéia vale uma vida”.
terça-feira, 19 de junho de 2012
Missão do professor
"Missão do professor: A partir do comprometimento com o processo ensino-aprendizagem, promover o conhecimento, respeitando as diferenças e estimulando a pluralidade, objetivando despertar o senso crítico e ético, assim como ampliar a consciência individual para o agir pessoal com responsabilidade coletiva, contribuindo para o desenvolvimento humano e social". SPP
sábado, 5 de maio de 2012
Fresca
Por Solange Pereira Pinto
Madrugada em Brasília, 4 de maio de 2012.
A
picada do grafite ainda comichava. Havia perdido a noção de quantas vezes a
lapiseira lhe ferroara, enquanto os textos agonizavam a espera do ponto. Os
poros acinzentavam aleatoriamente o dorso da mão direita. Ao lado, o cigarro cuspia
brasa. As pernas se agarravam descompassadas. Tanto mais as ideias
enrodilhavam, a pele enrijecia. O bote certeiro dos agulhões lhe assustava. O
relógio confundia-lhe a cabeça. Sabia disso e ainda assim adiava jogar a
primeira palavra na página em
branco. Temia jorrar suas bobagens. Os dedos duvidavam e não
deixavam uma sílaba sequer escapar. Espetava mais uma vez.O
tempo ardia. A língua seca evaporava sua voz. Tomou um “engole” rápido da
borracha e, antes de o medo gaguejar a coragem, escreveu firmemente: “Fresca”.
Apertou duas vezes a cabeça roliça do cilindro prateado. O bastãozinho fino,
mal saiu da lança pontiaguda, apontou em disparada:
“O gosto de poço, fundo e
espelhado, escorria pelas narinas. O barro molhado beijado de chuva tingia de
laranja aquela tarde entediada. Seus pés pausavam a vontade de jogar o corpo no
chão e lambuzar a pele de vulnerabilidade. Despida de si, faria sua modelagem
de lama. Pensava. Voltou-se para o canto da mesa e argüiu a espera. A argila
fria soprava as linhas da palma da mão esquerda, que auscultavam o bojo da
moringa como se quisessem mapear o contorno de uma noite qualquer. Um assobio
agudo de água penetrava, estreito, os poros terracota do pote. Alisou o tampo arredondado
e num leve puxão dedilhou a fragilidade. Cheirou a infância e bebericou a memória.
Sempre estivera ali, sobre a toalha crua de juta cobrindo o aparador, o cuidado
da avó. As obrigações esquentavam o juízo, ela avisava. A textura porosa da
saudade costurou de camponesa o avental do conto de fadas. Ao alinhavar a
última frase, o cotovelo espatifou o gargalo. Em cacos, a moringa desfez o
tempo”.
A página molhada derreteu a lembrança e, entre sede e alívio, a menina releu
“fresca”.
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