No mundo contemporâneo
temos listas e listas de coisas a fazer. A lista das beldades do mundo, a lista
para se ter um corpo perfeito, a lista do cabelo mágico, a lista dos
profissionais bem-sucedidos, a lista de países para conhecer antes de morrer, a
lista dos livros imprescindíveis, a lista dos alimentos e vitaminas para uma
saúde ideal, a lista dos principais influenciadores digitais, enfim, a lista do
capitalismo e da época de consumo.
Nada contra as listas de
lembretes que fazemos semanalmente para não esquecer as tarefas. Mas o problema
está nas listas ilusórias, idealizadas e aprisionadoras que nos “vendem” de
tempos em tempos. Essa quantidade de “listas” nos faz querer seguir “estilos de
vida e modelos de consumo” que em grande parte das vezes não combina com nosso
jeito de ser ou valores próprios. Ainda assim nos sentimos na obrigação de
“seguir” e, pior, “cumprir” as listas.
Assim, vamos vivendo de check list, primeiramente tentando
cumprir as listas dos pais, depois vivemos na ansiedade de cumprir as listas
“impostas” pela cultura e sociedade em que vivemos.
Um exemplo disso, que faz
muitos jovens entrarem em alta ansiedade e depressão, com profundos sentimentos
de inadequação, outsider (estranho), loser (perdedor), fracassado,
imprestável, inútil, entre outros adjetivos pejorativos, são as tais “listas”
daquilo que é tido por desejável, imprescindível, importante e necessário
seguirmos para sermos “alguém”! Ou seja, um ser humano “que valha a pena”
existir. Fora o “top tem” (os dez mais), o restante (resto) é ninguém, pois atualmente
se mede “o valor” do indivíduo pelo check
list e para “nada serve” quem não tem um troféu, uma capa de revista, uma
medalha ou um reconhecimento xyz.
Nessa onda de listas,
muitas pessoas se distanciam da própria essência, desaparecem de si mesmas, entram
no abismo e perdem até a vida, pois “perdem o respeito da sociedade”. “Você
viu? O filho de fulano não virou ninguém”! “Tanto investimento e escola cara
para nada!”. “Cicraninha tão inteligente quer ser musicista, coitada da mãe dela”.
“E o sobrinho da vizinha que já tem 40 anos e ainda mora com os pais, um
problemático!”. “Ah, pior a prima dele que está na quinta faculdade e não sabe
o que quer da vida, uma folgada”. Etc. etc. etc. Pessoas que não cumprem listas
são a escória social; desprezíveis.
O estímulo para entrar em
listas é amplamente divulgado nas redes sociais, noticiários e mídia geral. Por
exemplo, a revista Forbes 30 Under 30 (em português: Forbes 30 abaixo de 30) “é um
conjunto de listas emitidas anualmente, desde 2011, pela revista Forbes e
algumas de suas edições regionais. As listas americanas reconhecem seiscentas
personalidades, com trinta selecionadas em vinte categorias. Ásia e Europa
também têm dez categorias, totalizando trezentas, enquanto a África tem uma
lista única de trinta pessoas. A Forbes organiza conferências associadas e uma
seção do site chamada 30 Under 30. Em 2016, as indicações para a lista haviam
atingido mais de 15 mil, com os editores da Forbes selecionando trinta
vencedores para cada uma das vinte categorias”.
The Washington Post relatou que o canal visa fornecer "programação focada na geração
milenar aos muitos consumidores influentes da revista", apesar de ter seus
críticos inclusive para o sub-reconhecimento de jovens minorias raciais e
mulheres. The Root observou que 29
dos 30 jornalistas homenageados na lista de mídia inaugural em 2011 eram
brancos, e nenhum preto ou latino. Elle
África do Sul observou o desequilíbrio de gênero nas listas de 2014,
perguntando: "Onde estão as mulheres?" Poynter relatou que a lista de mídia de 2015 tinha dezoito
mulheres, a maior dos cinco anos de história da lista.
O que tudo isso significa? Existem listas mostrando
quem são os bem-sucedidos, os milionários, antes dos 30 anos! Como se fosse o “comum”
ou fácil chegar nessa posição ou para todos independentemente de seus contextos
de vida ou que isso seja de fato relevante à humanidade e a nossa espécie
sapiens. Ser rico pode ser meta, ser famoso pode ser meta, ser culto pode ser
meta, mas gerar modelos a serem seguidos faz parte de uma distorção da
realidade. Isso gera a ilusão de um caminho “certo” a percorrer, um resultado a
obter, que gera pressão, que gera ansiedade, que gera frustração, que gera ... O
mal do século XXI: depressão e sentimentos de menos valia.
Portanto, você precisa saber quais “listas” você está
se obrigando a cumprir e o motivo de segui-las. Pergunte-se quando foi que se
convenceu de que esse era o caminho; quando foi que a lista X ou a lista Y
entraram na sua vida e por que ainda se apega a elas. Olhe para a sua lista de
pendências atuais e perceba seu “check
list”. Recorde-se em que topo de lista gostaria de estar quando adolescente
ou jovem adulto. E, por fim, de quais listas já conseguiu se livrar?