Quando nasci, precisei de muito gás para começar a dar meus
primeiros passos, quero dizer minhas primeiras chamas de vida. Lentamente, eu
apagava e acendia, apagava e acendia, sempre precisando de alguém para aumentar
e diminuir o gás que me motivava a ir em frente.
Certo, dia, pendurada em uma rua antiga, de pedras, na
época das cavalarias, fiquei no meu poste olhando as estrelas. Minha chama
estava bem alta e ardente naquela ocasião.
De repente, um moço, alvo e sombrio ao mesmo tempo, fitou
em minhas labaredas e seu rosto se iluminou. Foi quando acendi minha primeira
paixão. Fui notada, enfim, no auge dos meus 18 anos. Mas, ele passou e fiquei
meio quebrada, trincada de dor de amor. Outros passantes, aqui e acolá,
brilhavam os olhos diante de mim. Por poucos dias, às vezes meses. Nada muito
longo é um fato.
Até que um dia houve uma mudança drástica e inúmeras luzes
nos substituíram. Eu estava velha. Fora de moda. Ninguém mais precisava de mim
ou me queria. O gás já não dava conta de motivar minha chama. Meu fogo já não
ardia. Estava virando mero depósito de cinzas. Apagada.
Senti as rugas de minhas rachaduras cada vez mais
profundas, e eu cada vez mais fosca. Uma lamparina jogada num canto. Iria um
dia para um museu? Alguém me resgataria do fundo daquele baú de tralhas? O que
o destino me reservava?