Em um vespertinar tórrido, onde o sol, inclemente, derramava seus raios abrasadores sobre a terra ressequida, deparei-me com a angústia do calor que, como um amante ciumento, envolvia tudo em sua ardente teia.
Sob o manto escaldante do astro rei, senti-me
aprisionada, uma marionete do calor que dançava em meu entorno.
Oh, como desejava escapar dessa sinfonia de
calor opressor! Minha pele, testemunha ora silenciosa, ora rachante, ansiava
pela carícia fresca de uma brisa que teimava em se esconder.
O ar, espesso e impregnado de calor, prendia-se
às minhas narinas como um sussurro sufocante, roubando-me a respiração, que
tropeçava nas ranhuras secas de uma garganta tossinante.
Num devaneio, busquei refúgio sob a sombra
fugaz de uma árvore quase ressequida, suas folhas murchas pingavam lamentos testemunhando
a agonia da terra escaldante.
Ah, como desejei que uma tempestade revigorante
descesse dos céus, lavando o mundo com suas lágrimas celestiais, e que eu, como
uma náufraga da aridez, pudesse me banhar em sua salvação refrescante. Clamei
aos ares!
Mas, ó leitor, permita-me partilhar contigo o
paradoxo que permeia meu ser neste instante de sufoco: ainda que o calor me
oprima, sinto-me uma devota da aprendizagem. Pois, sem calor, eu seria nada,
talvez uma sombra desprovida de experiência, um vazio frio em meio à monotonia.
Ao que parece é o calor quem transforma farinha
em bolo, água em chá, praia em agito, piscina em festa, cachoeira em refúgio.
Não é só ardência cozinhando o cérebro.
É neste calor picante que a vida floresce,
desafiando a natureza implacável. As risadas nervosas ecoam como sinos festivos
em meio ao deserto escaldante, e a alegria estressada, como uma fênix
ressurgindo das cinzas, ergue-se das dobras quentes do cotidiano. Pois, com
muito fogo no ar, eu sou tudo – uma sinfonia vibrante derretente de risos e
calor humano estendido perto do ventilador.
Porque, convenhamos, nada melhor do que suar em
busca da iluminação pessoal, como se o Universo decidisse nos dar uma sauna
grátis, porque sim, merecemos melhorar como seres humanos, né? Que a
temperatura ardente seja nosso mestre zen, ensinando-nos a arte da paciência
enquanto o suor escorre como uma obra de arte moderna.
Assim, deixo esta
reflexão, ó leitor ansioso: em meio à fornalha da vida, é no calor que descobrimos
nossa verdadeira essência, pois tudo derrete e resta o sumo. Só. Pó.