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(Solange Pereira Pinto). Portanto, ao utilizar algum deles cite a fonte. Obrigada!

terça-feira, 21 de outubro de 2008

A princesa do lado de lá



Coqueiro mirrado. Ao vento. Menina encabulada. Ao relengo. Descia o pó de guaraná com açaí pela goela da classe média. Ela media. Leonardo enfiava gol na marca. Ela sorria. Vanice contava novamente as moedas e as balas de goma. Assuntava a escuridão que baixava pela linha ao longe. Pensava na volta sacolejada e arenosa. Arrepiava. O bolo de milho revirava. Sabia. Passava das quatro. A caixa meia boca. Os pés não socorreriam metade acima. Bocejava as costelas magras. A noite vinha e ainda a aula de matemática. O pensamento afundou. A loirinha apressada lhe jogou água. Arregalou-se novamente. Caminhou um poste a mais. Abanou um sorriso fugido. Mariana comprou três chicletes. Deixou o troco. "Pamonhaaa quentinhaaaaaaa". Gritava alguém. Espirrava o tédio. João Maluco dizia que gritar fazia bem à alma. Ela se envergonhava. Era de verbo curto. Gastava mais palavras quando orava. Ainda assim, pra dentro. Havia completado catorze dois dias antes. Ganhou um terço de prata. Contava a reza pra sair daquela vida. Era ali na princesinha avistada do morro que se perdia de medo. Do lado de lá, tinha rajada. Até assombração. Mas a menina calada, sabia. Na filha de Zé Girino não se mexe. Não bolina, nem desrespeita não. Faltavam seis postes até a parada de ônibus. "Sanduícheeeee naturaaaaal". Atum. Salada. Salpicão. Mirou o letreiro. Era Engenho de Dentro. O gringo chamou e meteu a nota. A canela titubeou. Num solavanco caiu de beiço. O tiro passou fino. As jujubas se espalharam. Afastou o cacho do olho esquerdo. Avistou o inglês. Lembrou-se de quem era. Estava grávida.



(DF, 21.10.2008)

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