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A visualização deste blog fica melhor em computador. Todos os textos (e esboços) postados neste blog são de autoria de Solange Perpin
(Solange Pereira Pinto). Portanto, ao utilizar algum deles cite a fonte. Obrigada!

quinta-feira, 21 de maio de 2009

A pele que escuta

 

Tens no ser girassóis

Querida pedra bonita,

Preciso lhe revelar: me apaixonei. Você me libertou das rusgas e mesquinharias cotidianas. Os tropeços, os engarrafamentos, os seres imprestáveis, o desânimo diuturno, o sistema perverso e todos os barulhos insuportáveis do viver se transformaram em estátuas de sal a dormir por mais de cem anos.

Em miragem concreta, veio você. Uma visagem limpando as heras, afastando os espinhos; tirando-me da caverna, acendeu em fogueira novamente meus versos. Lembrou-me das estradas eternas (e verdadeiras) que me vou.

Por sua causa, vi o ser humano se manifestar deus criador. Fazia tempo que as cortinas tinham se fechado para a admiração. Logo eu, que sempre acreditei haver alguns clareados por aí, estava me tornando opaca. Soturna demais. Mas você veio tão forte... Tão bela... Tão inesperada! Ascendeu-me as boas sensações dormentes. Agora me sinto vivaz, em paz e feliz! Seus dedos lisos, afagando os sulcos do tempo em minha face, deslizam em poema: "dorme um sono tranquilo na casa da paz".

As horas se tornaram telas a colorir e, meus olhos,
duas lunetas voltadas às incontáveis estrelas do mar.

Em profundidade, inundo - por sua causa (e por minha) - meu caleidoscópio de sentimentos (giratórios e quebradiços) com a certeira esperança de que tudo passa. 

Percebo remontar os cacos em nacos amarelos e em tons alarajandos de "amanheceu vai além/tem nas mãos girassóis/brinca de ser o que for". 

Rodopio as idéias e a força criativa assinala meu peito em alvo inscrevendo: "salta do nada, desata e dança ao redor". 

Leio nas pedras e volto a pertencer radiantemente acolhida. Meu peito saltita em percussão e "diz sorridente ao cigano que o sonho vingou/sai do abandono e ouviras as estrelas de luz". 

Minha espontaneidade retoma as mãos e os desejos de fazer se jogam pelos meus ouvidos lambendo os tímpanos: "sai do silêncio, serena, serena canção/brinca de ser o que for/ tem nas mãos girassóis". Inebriada de canção gargalho serenamente por minhas entranhas. 

Minhas veias convertem-se em instrumentos de sopro e minhas artérias em cordas de viola. Você penetra e me traduz em música. Risca em mim o nome do amor. 

Sentir-lhe grava em mim "a laser histórias que ainda não sei". Vou contente a repetir-lhe. Uma. Duas. Dez. Cem vezes. Num sem fim para me integrar a você como se integram as vozes uníssonas do coral. 

Pede bis. 14 Bis. Encantada me lanço em "riscos da arte | capricho da sorte que vem".

Com amor,

Soll


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Pedra Bonita 14 Bis Composição: Vermelho / Murilo Antunes 

Leio nas pedras um velho e claro sinal 
Traços da escrita rupestre de algum ancestral 
Linda viagem, visagem, mensagem de amor 
Sol das cavernas, estradas eternas me vou 
Amanheceu vai além 
Tem nas mãos girassóis Brinca de ser o que for 
Brilham cem mil faróis 
Salta do nada, desata e dança ao redor 
Tocam tambores nas tabas, nas selvas irmãs 
Sai do silêncio, serena, serena canção 
Joga os deuses por terra se tem coração 
Diz sorridente ao cigano que o sonho vingou 
Sai do abandono e ouviras as estrelas de luz 
Sai do silêncio, serena, serena canção 
Brinca de ser o que for Tem nas mãos girassóis 
Gravo a laser histórias que ainda não sei 
Riscos da arte capricho da sorte que vem 
Dorme um sono tranquilo na casa da paz 
Risca na pedra bonita o nome do amor





Texto de Solange Pereira Pinto


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